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    Proteção para motoristas e viajantes de São Marcos: ‘é a classe que está mais exposta’, lembra médico Flávio Fontana

    Médico Flávio Fontana fala sobre importância da campanha voltada para caminhoneiros e viajantes que chegam ao município e preocupação com assintomáticos: ‘pode ser um motorista de 70 anos, como pode ser um motorista de 25 anos, em pleno vigor da vida’

    4 anos atrás

    Médico são-marquense avalia realidade da pandemia do coronavírus (foto: arquivo pessoal)

Desde o dia 23 de maio São Marcos tem um plano de ação para atendimento aos motoristas, profissionais que seguem trabalhando diante da pandemia do Covid-19, viajando por diversas regiões do país. O médico são-marquense Flávio Fontana ressalta que a avaliação dos caminhoneiros e viajantes que chegam ao município é importante como forma de proteger os motoristas e suas famílias, já que eles estão entre as classes de trabalhadores mais suscetíveis à contaminação pelo Covid-19. “Com objetivo de melhorar a condição não só da classe dos motoristas, como de qualquer grupo de risco eu vejo como positiva essa ação. O que está acontecendo é que a classe que está mais exposta, que mais está correndo risco no momento atual, é a classe dos motoristas. Duas categorias de profissionais que no momento estão expostos ao contágio do vírus são a classe dos motoristas e o pessoal que trabalha com a saúde”, analisa o médico.

Ele observa que os números de São Marcos comprovam o alto risco de contaminação entre os motoristas, já que eles são a maior parte dos casos positivos para Covid-19 registrados no município. “Não tem nenhum médico, nenhuma enfermeira, nenhum idoso, nenhum imune suprimido, nenhuma técnica de enfermagem com Covid positivo até o momento, temos positivos e quase todos motoristas que pegaram o vírus lá fora. Eles estão mais expostos que qualquer outro grupo, a prática mostra isso”, afirma.

Portadores estão em todas as faixas etárias

Os principais grupos de risco do Covid-19 são idosos e portadores de doenças respiratórias. São estes que têm maiores chances de complicações causadas pela doença. No entanto, o médico Flávio Fontana ressalta que o vírus pode contaminar qualquer pessoa, tornando-o um vetor da doença, mesmo que não desenvolva sintomas. Da mesma forma funciona entre os motoristas, por isso a campanha busca alertar a todas as faixas etárias, independente de fazer parte ou não de um grupo de risco. “O portador do vírus pode ser um motorista de 70 anos, como pode ser um motorista de 25 anos, em pleno vigor da vida. Claro que a resposta de cada um pode ser diferente, mas quando o assunto é portador de vírus que está trazendo o vírus de fora pra cá, aí não escolhe idade”, assinala.

O médico alerta também sobre viajantes que podem estar contaminados, mas que não apresentam sintomas. Dessa forma, eles podem ser vetores do vírus e acabam contaminando outras pessoas sem perceberem. Por esse motivo, a testagem entre pacientes que estiveram expostos em regiões de contaminação local se faz ainda mais necessária, conforme acredita o médico são-marquense Flávio Fontana. “Até os que têm mais idade também têm vindo às vezes sem sintomas. A campanha acontece independentemente da idade. Eles estão pegando o vírus lá fora, em São Paulo, Rio de Janeiro, Paraná e vindo pra cá com o vírus sem se dar conta muitas vezes. Estou preocupado com esse fato bem concreto que está exposto pra nós”, reforça.

Médico afirma que tratamento pode ser simples e rápido

Os últimos dois casos positivos de Covid-19 em São Marcos foram confirmados nesta terça-feira, dia 2 de junho. São 14 no total, destes cinco estão em isolamento domiciliar, um internado no Hospital São João Bosco e oito já estão recuperados. Flávio Fontana informa que os pacientes tratados em São Marcos apresentaram boa evolução, já que nos casos sem grandes complicações o tratamento é considerado simples. “Até agora todos estão evoluindo bem, são remédios baratos e simples de serem usados e, mantendo os cuidados, podem cumprir o isolamento em casa mesmo. O tratamento pode ser feito em casa facilmente, sem perigo nenhum”, destaca.

A testagem entre os viajantes tem o objetivo de evitar que um contaminado espalhe o vírus para outras pessoas, diminuindo as chances de transmissão local do coronavírus. Mas ela também funciona como forma diagnosticar um paciente logo no início da doença e prevenir que ele desenvolva maiores complicações. “A importância é tentar identificar alguém que seja portador do vírus pra evitar que ele contamine as pessoas próximas dele. Se você detectar precocemente um paciente com coronavírus, você pode tratar mais cedo com alguns remédios que são usados na fase precoce e evitar que muitos desses pacientes atinjam fases mais perigosas mais adiante”, explica Flávio Fontana.

‘Mostrar o perigo, mas não causar o pânico’

Flávio Fontana ressalta que muitos casos de Covid-19 acabam evoluindo para estágios mais graves da doença, porém números mostram que a maior parte dos infectados acabam não atingindo um quadro de risco e, também, apresentando pouco ou nenhum sintoma. “É uma situação grave, mas temos que ter na nossa cabeça que a cada 100 pessoas que pegarem este vírus, 80 a 85 não vão sentir quase nada. Os 15% ou 20% vão ter uma gripe mais complicada, e nós estamos vendo aqui no Hospital São João Bosco que a grande maioria deste grupo mais complicado acaba melhorando”, avalia o médico.

De acordo com ele, a mortalidade causada pelo coronavírus pode ser baixa em relação ao número de infectados. Este é um dado que será avaliado após o controle da pandemia em nível mundial. “Provavelmente daqui a alguns meses, quando acabar a pandemia, vão estudar os números retroativos e ver o que realmente aconteceu. Vamos ver que a mortalidade não é 0,01% quem sabe. Quando se leva em consideração os casos graves, os que chegam no hospital com sintomas mais graves, a mortalidade fica em trono de 3% a 5%, mas, quando leva em consideração 210 milhões de habitantes, nós vamos saber quando acabar com a pandemia”, observa.

Fontana relata, ainda, a reação da comunidade são-marquense diante da pandemia. “Eu tenho recebido pessoas no consultório em estado de pânico, pessoas com estresse, medo da doença. Eu acho que nós não podemos ignorar a doença e relaxar, mas acho que neste aspecto houve um erro muito grande, as coisas teriam de ser divulgadas de maneira diferente, mostrar o perigo, mas não causar o pânico nas pessoas. Tem que se desmistificar isso aí”, opina Flávio Fontana.