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GERAL
Transportadores são-marquenses explicam não adesão à paralisação
Classe de transportadores havia anunciado paralisação nacional para esta segunda-feira (1º). No entanto, adesão não foi consenso e não se concretizou. Em São Marcos, representantes da classe apontam discordâncias com pauta do movimento
4 anos atrás
Em 2018, transportadores são-marquenses aderiram à paralisação nacional (foto: arquivo)
Nesta segunda-feira, dia 1º de fevereiro, entidades ligadas ao setor de transporte, como a CNTTL (Confederação Nacional dos Trabalhadores em Transporte e Logística), a ANTB (Associação Nacional de Transporte no Brasil) e o CNTRC (Conselho Nacional de Transporte Rodoviário de Cargas), convocaram caminhoneiros e transportadores de todo o país para aderir a uma paralisação nacional. A manifestação da classe estaria pautada no alto preço do diesel e no não cumprimento da tabela de frete.
No entanto, a convocação não se concretizou em mobilização devido às discordâncias entre a classe e falta de consenso sobre o assunto. Ainda na manhã de segunda-feira (1º), a Polícia Rodoviária Federal divulgou boletim informando que todas as rodovias federais estariam com fluxo livre no mesmo. Da mesma forma em São Marcos, também não houve paralisação. O caminhoneiro são-marquense, Daniel Sereno, critica o objetivo da convocação da greve e aponta que houve motivação ideológica. “Essa paralisação tem motivação política, os caminhoneiros não estão apoiando e muito menos se manifestando. Essa iniciativa de paralisação não é dos caminhoneiros, é pura politicagem. Só estão usando o nome dos caminhoneiros porque é uma classe forte, que se parar realmente vai dar um prejuízo enorme pro Brasil, mas nós não temos nada a ver com isso”, declara o caminhoneiro.
Ele ressalta, ainda, que a movimentação em torno de uma paralisação nesta semana em nada se assemelha à grande greve dos caminhoneiros registrada em 2018, quando houve consenso contra os reajustes no valor do diesel. “Não tem nada a ver com a greve anterior. Os caminhoneiros não estão apoiando e muito menos se manifestando para fazer política. Não vai ter adesão da categoria. Se fosse para ter uma paralisação envolvendo os caminhoneiros pode ter certeza que nós já estaríamos todos parados”, salienta Daniel Sereno.
Transportador Rodrigo Michelon: ‘não me reconheci dentro dessa pauta’
Rodrigo Michelon, diretor da Rodocell Transportes, também afirma que a não adesão à paralisação dos transportadores se deve à discordância da pauta central do movimento. “O que desmotivou o movimento foi a pauta. Eu mesmo, como transportador, não me reconheci dentro dessa pauta. Não me identifiquei. Se tivesse uma pauta mais enxuta e com questões mais fáceis teria engajado mais”, aponta o empresário são-marquense.
Uma das principais críticas da mobilização desta semana foi contra o não cumprimento da tabela de frete, no entanto, Rodrigo Michelon avalia que esta determinação não é benéfica para todos os transportadores, principalmente autônomos. “Foi muito precipitada a mobilização, porque o que era pedido, não digo que não era justo, mas não vem na realidade de uma negociação de livre comércio, uma concorrência perfeita. A gente não consegue, como transportador, aplicar essa regra para os nossos clientes, porque existe uma concorrência. Esse negócio de tabelar nunca funcionou, porque não se trabalha dessa maneira, se trabalha com uma concorrência”, assinala.
O empresário observa que a tabela de frete tirou espaço de mercado dos caminhoneiros autônomos. “O grande problema das transportadoras gigantes, que cresceram muito mais ainda esse ano, foi a questão da tabela, porque antes se trabalhava muito com terceiros, mas muitas empresas investiram pesado em caminhões, pra fugir dos autônomos, poder trabalhar com o embarcador delas e permanecer no mercado. Então, no meu ponto de vista, a tabela tirou o espaço de mercado do caminhoneiro autônomo”, critica o transportador. Rodrigo Michelon exemplifica o porquê a tabela fixa no valor do frete não atende aos interesses gerais. “Tabelar preço de frete não vai funcionar, porque tem que imaginar o seguinte: a Scania vai tabelar o preço do caminhão dela junto com a Volvo, a Mercedes. Vai ser R$ 1 milhão cada caminhão, mas e se um consegue vender a R$ 700 mil, R$ 800 mil?”, exemplifica Rodrigo Michelon.
‘O que deveria ser um pleito é o óleo diesel’
O transportador Rodrigo Michelon avalia que a mobilização da classe poderia obter mais adesão caso privilegiasse outra demanda. “O que deveria ser um pleito da equipe é a questão do óleo diesel, isso sim”, destaca, justificando as dificuldades de caminhoneiros e transportadoras com a oscilação no valor do diesel. “Se determinar que vão mexer no diesel a cada quatro meses, aí tu consegue. Se vai ter um aumento de 10% todo mundo para e negocia. Agora, quando numa semana sobe e na outra desce, ninguém consegue trabalhar com isso, nem a gente consegue negociar com o nosso cliente”, esclarece.
As altas no valor do diesel são uma demanda antiga do setor e já foram pauta da grande greve de 2018. Na ocasião, a solicitação foi atendida, obtendo resposta do governo para subsídio de até R$ 0,46 por litro do combustível. No entanto, cerca de um ano após a paralisação que durou 11 dias, em maio de 2018, as queixas foram retomadas.
Durante entrevista ao L’Attualità, Rodrigo enalteceu o trabalho de caminhoneiros e transportadores principalmente durante o período de pandemia. “Se tu vai analisar a coragem, dedicação dos motoristas, agora que situação está mais grave e se tem um pouco mais de conhecimento do que acontece com a doença, mesmo assim eles não pararam nunca, foram muito corajosos e fizeram a diferença na nossa distribuição”, declara o são-marquense.