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EDUCAçãO
Professores municipais de São Marcos farão manifestação pedindo reajuste salarial e valorização da Educação
Movimento pacífico com o tema "A Educação Pede Socorro" acontecerá em frente à prefeitura de São Marcos, no próximo dia 17 de dezembro, a partir das 18 horas
3 anos atrás
Manifestação acontecerá em frente ao Centro Administrativo Municipal
Uma comissão formada por cerca de 150 a 200 professores municipais realizará uma manifestação pacífica em frente à prefeitura de São Marcos no próximo dia 17 de dezembro, a partir das 18 horas. O movimento de educadores reivindicará reajuste salarial e maior valorização da Educação no município. A professora Geovana Soldatelli – que leciona na Escola Municipal de Ensino Fundamental Francisco Doncatto no turno da manhã e Escola Municipal de Educação Infantil Criança Feliz no turno da tarde – é uma das integrantes da comissão e organizadoras do movimento. Conforme destaca, o tema da manifestação é “A Educação Pede Socorro”. “Nosso movimento é pela valorização da educação de forma geral e ampla. A educação pede socorro em termos de valorização profissional, valorização daquilo que nós estudamos para realizar, porque, hoje em dia, parece que as pessoas leigas no assunto têm muito mais vez e voz do que nós que estudamos graduação, pós graduação, doutorado em Educação. As próprias famílias, que não estudaram para tal, vem para a escola e nos tiram o direito e a autoridade de cobrar das crianças a aprendizagem”, assinala Geovana.
Aprovação de alunos durante a pandemia: ‘muitos alunos estão passando sem saber nada’
A educadora alerta para a prejudicial aprovação de alunos que não estão aptos a passar de ano durante a pandemia. “São 2 anos de pandemia, em que muitos alunos estão passando sem saber nada. Nós professores estamos nos esforçando ao máximo para que eles aprendam alguma coisa, mas a própria desmotivação deles vem do fato de pensarem ‘se eu não fizer nada, eu vou passar da mesma forma’. Isso faz com que eles não queiram mais realizar nada, e a maioria das famílias não estão nos apoiando nesse sentido. Claro que com algumas exceções, temos famílias ótimas, que nos ajudam nas atividades de casa, que nos deram retorno no ensino online, mas tem famílias que desapareceram e agora voltam no final do ano. E aí o aluno que não sabe nada vai ser aprovado, porque o Estado e a União nos fazem mentir”, ressalta Geovana Soldatelli.
A professora revela que educadores estão precisando abrir mão de questões éticas para aprovar alunos durante a pandemia. “Uma vez a gente se questionava em dar um ponto ou dois para um aluno que não tinha atingido a média. Na hora do conselho de classe pensávamos ‘vou dar um pontinho ou dois, porque ele se esforçou, fez tudo, veio para a escola direitinho, e na prova, nas avaliações diárias, se percebia que ele era esforçado, que ele estava tentando, que queria aprender’. Então dávamos esse um ou dois pontinhos, mas sempre pensando na questão ética, de estar sendo correto ou não. Só que agora o Estado e a União, os governos, nos mandam dar nota valendo. Não é um ponto ou dois, é 30, 40, 60 pontos. E isso nos deixa muito preocupados e pensativos”, denuncia a professora.
‘São Marcos é o município que mais paga mal os seus professores em toda a nossa região’
Além da valorização da Educação em geral nas escolas, a manifestação de professores em São Marcos também pedirá valorização profissional através de reajuste salarial, conforme ressalta Geovana Soldatelli. “São Marcos é o município que mais paga mal os seus professores em toda a nossa região, enquanto que o nosso prefeito tem o salário mais alto de toda a região, inclusive maior que o do prefeito da capital gaúcha. Nós sabemos que, por lei, o prefeito não pode receber menos que os funcionários, e que os médicos da saúde recebem muito bem, porque já vão acumulando triênios, e isso vai aumentando o salário deles. Já nós professores estamos quase com o salário mínimo em São Marcos, enquanto professores de 20 horas, pra quem é nomeado hoje. Estamos com as nossas classes e triênios congelados há 2 anos. Se eles não podem rebaixar o salário do prefeito, que pensem em valorizar os funcionários da Educação”, aponta Geovana.
Ela salienta que a formação e trabalho realizado pelos professores não estão sendo valorizados. “É como se a gente não estudasse para estar aqui numa sala de aula ensinando ao mesmo tempo 20, 30 pessoas. Nós trabalhamos com 30 seres diferentes, com realidades diferentes, com maneiras de aprendizagem diferentes, e isso não é valorizado pelo nosso município, pela nossa gestão municipal, pelo nosso prefeito”, destaca a representante da comissão de professores do município.
Aumento salarial de 32%: ‘o prefeito de São Marcos ainda não se manifestou’
Conforme aponta Geovana Soldatelli, o novo FUNDEB (Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica) já estipulou aumento salarial de 32% para os professores, contudo, o prefeito de São Marcos Evandro Kuwer ainda não se manifestou em relação ao reajuste. “O governador está garantindo estes 32% de aumento para os professores do Estado, sem achatar níveis de classes, porque isso está garantido nos planos de carreiras dos professores. E o prefeito municipal de São Marcos ainda não se manifestou com relação a isso, enquanto que prefeitos da região toda já se manifestaram”, frisa a professora.
Geovana Soldatelli finaliza reforçando que a manifestação de professores no próximo dia 17 de dezembro será pacífica e contará com a presença das famílias dos educadores, além de outros servidores municipais. “O nosso manifesto é em prol de todas essas questões que estão nos preocupando com relação a Educação e que as famílias não estão se dando conta. Eu acho que a comunidade toda tem consciência de que um povo educado é um povo que vai adiante, que quer crescer, conquistar o mercado de trabalho, uma vida melhor. No dia da manifestação, vamos levar as famílias junto, filhos, maridos. E os demais funcionários da prefeitura, de outros setores, nos pediram se podem nos acompanhar nesse dia, porque eles também estão descontentes com a desvalorização da classe dos funcionários públicos de São Marcos”, pontua Geovana Soldatelli.
São Marcos investe 74% dos recursos do Fundeb no pagamento de professores: ‘estamos com uma margem tranquila’
Procurado pela reportagem do L’Attualità, o prefeito de São Marcos Evandro Kuwer informa que soube da manifestação de professores municipais no próximo dia 17 de dezembro através das redes sociais. “Estamos sabendo que eles querem fazer esse ato, mas não foi nada oficializado até o momento. Para mim chegaram apenas dois documentos na última terça-feira (7), um da Câmara de Vereadores e outro do Sindicato dos Servidores Municipais, ambos pedindo informações de quanto o município está gastando do Fundeb no pagamento do salário dos professores”, afirma Kuwer.
Conforme detalha, todos os municípios do Brasil devem investir, no mínimo, 70% dos recursos do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica para o pagamento de professores. “O município de São Marcos deve dar em torno de 74%, então estamos com uma margem tranquila, estamos cumprindo a lei. E esses outros 25% restantes do recurso também estão sendo sempre investidos de forma correta. Isso eu tenho que prestar contas para o Tribunal de Contas. É que nem os mínimos que eu devo investir do orçamento do município, 25% na Educação e 15% na Saúde. Caso eu não investir esses números mínimos, eu vou responder e vou ter multas com certeza”, aponta o prefeito.
Otimização de turmas do Ensino Fundamental: ‘temos muitas turmas com poucos alunos’
Questionado pela reportagem sobre o que levou São Marcos a atingir o menor patamar da região no pagamento dos salários dos professores, Evandro Kuwer destaca que, diferente de outros municípios, São Marcos possui na Educação Infantil um maior número de professores e poucos monitores, o que representa para a prefeitura uma folha de pagamento maior. “Temos 9 escolas, 5 são de Ensino Fundamental e 4 de Educação Infantil. Tem muitos municípios que têm na Educação Infantil professores e monitores. Monitores são pessoas concursadas, cujo salário é menor que o do professor. Em São Marcos são todos professores praticamente. Temos alguns monitores, mas é pouca coisa”, detalha o prefeito.
O prefeito também salienta que, desde 2017, o município está trabalhando em projeto de otimização de turmas do Ensino Fundamental, visando a evitar a contratação de mais professores. “Temos muitas turmas com poucos alunos, extremamente pequenas, e cada turma precisa de um professor. Então, a cada ano, fazemos um estudo, por exemplo, se uma escola tinha duas turmas de quinta série de 8 alunos cada, uma de manhã e outra de tarde, podemos fazer uma turma só de tarde. Mas se tiver um aluno que ia de manhã e nao pode ir de tarde, temos que organizar para ele ter acesso em outra escola. É o que estamos fazendo, só que é um trabalho que demora”, ressalta Kuwer, reforçando que a medida não prejudica professores já contratados. “Quando a gente vai diminuindo essas turmas, às vezes sobra professores, mas vou conseguir alocar eles em outra escola, outro setor que eu possa aproveitar, porque eles têm estabilidade, eu não posso demitir. Mas se eu não fizer essa junção de turmas, tenho que chamar novos professores e aí continua aumentando as contratações”, aponta Kuwer.
Conforme observa, o salário do funcionalismo público depende da quantidade de contratações. “De acordo com a receita do município, eu tenho um limite de gastos que eu não posso ultrapassar. Se eu tenho 50 partes de um bolo e 50 servidores, cada um vai ganhar um pedaço de bolo, mas se eu tiver 100, cada um vai ganhar meio pedaço”, exemplifica o prefeito.
Evandro Kuwer: ‘Os professores ganharam uma média de 11% de reajuste em 2020’
Evandro Kuwer também destaca que o salário dos servidores municipais não recebeu reajuste em 2021 devido à lei complementar 173 de 2020, motivada pela pandemia da covid-19, que estabelece, entre outras medidas, o congelamento de salários dos servidores federais, estaduais e municipais até 31 de dezembro de 2021. “No final de 2019 teve o aumento do piso salarial dos professores e nós ficamos abaixo do piso. Para se adequar, os professores ganharam uma média de 11% de reajuste, foi um aumento que tiveram, a partir de abril de 2020. Os demais servidores no ano de 2020 tiveram aumento de 5%. Mas, desde 28 de maio de 2020, ficou congelado a troca, para quem tinha triênios e quinquênios para receber, e não podemos mais dar aumento de salário para nenhum servidor, devido a essa lei”, informa Kuwer.
Reajuste salarial e prêmio assiduidade para servidores municipais em 2022
Conforme antecipa, após fechar as contas de 2021, o município de São Marcos debaterá o reajuste salarial dos funcionários de todos os setores. “Nós temos que fechar o ano de 2021, para voltar a trabalhar o reajuste dos funcionários de todos os setores. A gente debate internamente, mas os nossos números são públicos, e aí chamamos o Sindicato dos Servidores Municipais para ter uma conversa antes de encaminhar para a Câmara a proposta do reajuste que é possível darmos para todos os servidores”, assinala Evandro Kuwer. O prefeito também acrescenta que estuda a criação de um “prêmio assiduidade” para os servidores municipais. “Também estamos trabalhando nessa questão de fazer um outro tipo de ganho para os nossos servidores, provavelmente seja um prêmio assiduidade, uma forma de incentivo para o ano de 2022. Uma maneira de dar uma motivação para o nosso colaborador”, pontua o prefeito Evandro Kuwer