• Lattualita

    CORONAVíRUS

    SAúDE

    Pacientes internados com coronavírus em São Marcos tiveram tratamento com hidroxicloroquina

    Médico Flávio Fontana informa que medicamento tem se mostrado eficiente no tratamento de pacientes em fase mediana do Covid-19, com lesões pulmonares: ‘todos os pacientes submetidos a esse tratamento praticamente limparam o pulmão’

    4 anos atrás

    Médico avalia eficácia do medicamento para pacientes tratados em São Marcos (foto: apenas ilustrativa)

Na última sexta-feira, dia 5 de maio, um estudo que afirmava que a hidroxicloroquina representava risco de complicações cardíacas e até de morte no tratamento da Covid-19 foi anulado. O medicamento havia sido suspenso de pesquisas da Organização Mundial da Saúde (OMS) na data da publicação do artigo na revista científica The Lancet (dia 22 de maio), mas, diante da reviravolta, o órgão retomou os estudos. O uso da hidroxicloroquina no Brasil, especialmente para tratamento do Covid-19, não foi contraindicado pelo Ministério da Saúde em nenhum momento. Por isso, a recomendação, ou não, do uso para pacientes com a doença fica critério de cada médico, já que sua eficácia ainda não é comprovada oficialmente.

Em São Marcos, a hidroxicloroquina foi aplicada para todos os pacientes internados com Covid-19. Dos 27 casos positivos até esta quinta-feira, 11 de junho, seis deles foram encaminhados para internação hospitalar, por isso houve a necessidade do medicamento – o último paciente internado com Covid-19 teve alta do Hospital São João Bosco nesta quinta-feira (11). “Uma parcela dos pacientes com Covid-19 apresenta sintomas de muita tosse, febre alta mais persistente, não se sentem bem, alguns têm falta de ar. Esses pacientes com esses sintomas passam por uma avaliação, internam e começam a fazer o tratamento com hidroxicloroquina, azitromicina e clexane (anticoagulante)”, explica o médico Flávio Fontana, um dos responsáveis pelo tratamento dos pacientes internados com Covid-19 no Hospital Beneficente São João Bosco, de São Marcos.

Ele esclarece que são analisadas as imagens de tomografias realizadas antes e depois do tratamento com os três medicamentos. “É realizada uma investigação um pouco mais profunda na tomografia do pulmão, que mostra as lesões típicas do coronavírus. O que nós observamos é que, em cerca de 4 a 5 cinco dias, todos esses pacientes submetidos a esse tratamento praticamente limparam o pulmão. Todas imagens que apareciam com o vírus, depois de 4 ou 5 dias tomando esse coquetel, a tomografia praticamente voltou ao normal”, relata o médico. Os pacientes que não apresentam sintomas, ou apenas síndrome gripal, sem comprometimento pulmonar, são enviados para isolamento domiciliar e não recebem o tratamento com hidroxicloroquina.

Hidroxicloroquina é contraindicada para fases avançadas da doença

Médico são-marquense avalia realidade da pandemia do coronavírus (foto: arquivo pessoal)
Médico Flávio Fontana: ‘de uma maneira geral todos esses pacientes tiveram uma evolução muito boa’

Mesmo que o uso seja liberado pelo Ministério da Saúde, a eficácia da hidroxicloroquina não foi oficialmente confirmada com evidências científicas para o tratamento do coronavírus. No entanto, o médico são-marquense afirma que todos os pacientes tratados no município tiveram boas respostas ao medicamento. “Isso tem nos animado em dizer e confirmar, apesar da casuística ser pequena, que de uma maneira geral todos esses pacientes tiveram uma evolução muito boa. Todos eles tiveram uma evolução que chamou atenção pela rapidez”, informa Flávio Fontana. Ele reforça que os médicos têm a liberdade de receitar o medicamento, assim como o paciente é livre para concordar ou não com o tratamento proposto.

O médico informa que a evolução da doença no organismo é classificada em diferentes fases e em cada uma delas há um protocolo diferente de tratamento. “A doença tem diversas fases, a fase inicial (Fase 1), que é uma gripe. A fase mais adiante, Fase 2A, é quando começa processo inflamatório no pulmão. Na Fase 2B começa haver micro coagulação intravascular, que aumenta o processo inflamatório e poderá levar o paciente para uma terceira fase, chamada Fase 3. Essa é a fase em que paciente está muito grave, não consegue respirar e tem que ser entubado”, detalha Fontana, informando o porquê, em alguns casos, a hidroxicloroquina pode ser ineficaz. “Se pegar paciente de UTI, que já está com processo infamatório avançado, a hidroxicloroquina não é mais o tratamento ideal. Mas se pegar na fase 1 ou 2, esses pacientes tem boas respostas com essa combinação de remédios”, esclarece o médico.

‘Nós ficamos bastante animados em ver a melhora rápida dos pacientes, que, além de melhora clínica importante, mostraram uma melhora na tomografia’

Ele relata, ainda, que os pacientes internados em São Marcos estavam entre a fase 2A e 2B. “Nós ficamos bastante animados em ver a melhora rápida dos pacientes, que, além de melhora clínica importante, mostraram uma melhora na tomografia”, comenta Flávio Fontana, destacando a importância de notícias positivas em meio à pandemia. “Estamos cheios de más notícias, quando temos notícias boas temos que manifestar. Temos que mostrar a verdade, mostrar que a doença existe, é perigosa, para certos grupos principalmente, mas não é o fim do mundo. Existem notícias boas no meio de toda essa tragédia”, pontua o médico.

Médico Flávio Fontana defende aceitação da hidroxicloroquina: ‘quantas pessoas nós deixaremos de ajudar?’

O médico são-marquense Flávio Fontana ressalta que reconhece a utilização da hidroxicloroquina para o tratamento de diversas doenças, já tendo trabalhado com o medicamento em algumas situações. “Hidroxicloroquina é um medicamento que existe há mais de 70 anos. Era usado o quinino, de onde se extraia a cloroquina e depois aperfeiçoaram para hidroxicloroquina. Era usado para malária, desde a Primeira Guerra Mundial. Eu conheço há mais de 50 anos, uso há mais de 40 anos”, ressalta. Por isso, ele defende o uso também para o tratamento do Covid-19. “Apesar de não haver estudos de evidência científica ainda sólidos para justificar o seu uso, temos que considerar que estamos em uma pandemia e esses estudos só vão ser publicados daqui a alguns meses, quando se puder ter uma visão do que aconteceu com pacientes que usaram e aqueles que não usaram. Não há tempo para ficarmos fazendo estudos científicos e esperar pelo resultado, porque isso só vai acontecer depois que acabou a pandemia. E quantas pessoas nós deixaremos de ajudar?”, pondera Fontana.

Ele justifica também o porquê estudos realizados no Brasil não tiveram impacto na suspensão do uso de hidroxicloroquina para o Covid-19. “Usaram um estudo feito em Manaus, em que usaram a dose 20 vezes maior do que se usa. A gente usa uma dose de 800 mg no primeiro dia e 200 mg durante mais 5 dias. Isso dá 2,8 g. Em Manaus usaram mais de 20 gramas, usaram em pacientes graves e só provocaram efeitos colaterais”, relata, indicando que ouve uma politização do medicamento no Brasil. “A hidroxicloroquina foi combatida por uma corrente, no Brasil foi combatido pela corrente política. Publicaram o estudo mal elaborado, que serviu para dizer que não funcionava. Por outro lado, enquanto no Brasil discutimos e politizávamos, em outros países já estavam usando hidroxicloroquina em uma série de pacientes”, observa Flávio Fontana. A hidroxicloroquina estava sendo utilizada, mas foi suspensa, em países como França, Itália, Egito, Tunísia, Colômbia e Chile. Alguns países que seguem utilizando o medicamento são Brasil, Argélia, Marrocos, Turquia, Tailândia, Portugal, Quênia, Senegal e outros.