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    HOMICíDIO

    PLANTãO POLICIAL

    Justiça condena autor de homicídio de Nilton Roratto a 12 anos e 10 meses de prisão

    O réu Cleyton Bonette de Moura Goltz, 27 anos, foi condenado pelo homicídio qualificado do advogado são-marquense Nilton Roratto, cometido em 15 de março de 2015

    4 anos atrás

    Nilton Roratto e o filho Marcos Aurélio Roratto foram assassinados num período de 3 meses de diferença em 2015 (foto arquivo pessoal)

Com júri popular formado por 7 pessoas, o julgamento de Cleyton Bonette de Moura Goltz, 27 anos, acusado do homicídio do advogado são-marquense Nilton Roratto, 62 anos – cometido em 15 de março de 2015 – foi realizado nesta quinta-feira, dia 10 de dezembro, no Fórum da Justiça de São Marcos. A sessão, presidida pela juíza da Comarca de São Marcos, Ana Paula Della Latta, iniciou às 9h30 e terminou por volta das 20 horas. O réu foi condenado por homicídio qualificado, com pena estipulada em 12 anos e 2 meses, acrescidos de 8 meses pelos agravantes de reincidência e crime contra o idoso, totalizando 12 anos e 10 meses. Ao final do julgamento, o promotor de Justiça de São Marcos, Evandro Kaltbach, interpôs recurso do Ministério Público, visando a aumentar a pena concreta aplicada na sentença.

De acordo com o promotor de Justiça de São Marcos, Evandro Lobato Kaltbach, que atuou na acusação, durante o julgamento foram ouvidas quatro testemunhas: o delegado Luciano Righes Pereira (que atuou na investigação do caso em 2015); a inspetora Fernanda Catafesta; a viúva de Nilton Roratto, Salete Rasador; e uma testemunha de defesa, Ana Paula Aparecida Pinto. “A testemunha de defesa, ouvida diretamente de Torres, tinha o objetivo de dar guarida a um álibi do réu, que não foi comprovado”, detalha Evandro, informando que requisitará a instauração de inquérito policial para a apuração de crime de falso testemunho da testemunha de defesa. “Na convicção do Ministério Público, Ana Paula falseou com a verdade ao tentar dar sustentáculo ao álibi do acusado, de que ele não estaria na cidade de São Marcos e sim em Bento Gonçalves na data do fato”, aponta Evandro.

Conforme Kaltbach, o julgamento transcorreu dentro da normalidade. “Obviamente com momentos mais acalorados em termos de debate, de tese, de argumentos, mas sempre dentro de um respeito mútuo entre as partes. A defesa foi feita pela Defensoria Pública, tendo sido designada uma defensora pública de Vacaria, Juliana Maia. O julgamento se estendeu devido à oitiva das testemunhas e depois pelo extenso tempo de debates, com uma hora e meia para cada parte”, informa o promotor.

‘Tese de que Cleyton não teria sido o autor do crime e sequer estava na cidade não foi acolhida pelo conselho de sentença’, afirma promotor

Cleyton Goltz foi condenado por homicídio qualificado nesta quinta-feira (10)

Conforme Evandro Kaltbach, o réu Cleyton Bonette de Moura Goltz era acusado por homicídio qualificado, mediante recurso que dificultou e impossibilitou a defesa da vítima, que foi alvejada enquanto se encontrava deitada, dormindo no sofá da sala. “Incidindo ainda o agravante da reincidência, porque o réu já havia sido condenado por um assalto na casa do médico Rogério Zanol, que ele cometeu junto com Volnei Dallagnol, já falecido, em 1º de agosto de 2011, e também de crime cometido contra idoso. A tese da defesa era a negativa de autoria, sob o argumento de que ele não teria sido o autor e que sequer estava na cidade no momento, no dia do fato. Uma tese que não foi acolhida pelo conselho de sentença”, revela o promotor de Justiça.

‘Não se tem dúvida na investigação de que Cleyton foi o executor e que havia um mandante’

Apesar da investigação do caso ter apontado que o réu cometeu o crime a mando de alguém, Evandro Kaltbach explica que o fato não pôde ser esclarecido em juízo. “O réu não disse nada sobre isso, porque ele nega a autoria, não faz qualquer referência a motivo nem mandante. Infelizmente, nada a respeito disso foi de fato esclarecido. Existem evidências na investigação de que ele não atuou sozinho e que, pessoalmente, não teria motivo para matar a vítima. Então, não se tem dúvida na investigação de que ele foi simplesmente o executor, que de fato havia um mandante e um motivo deste mandante, mas isso jamais foi concretamente apurado”, assinala o promotor de Justiça de São Marcos.

Homicídio de filho de Roratto três meses após o pai: ‘não é possível afirmar se um fato tem relação com o outro’

Marcos Aurélio Roratto foi executado três meses após o pai

Questionado sobre a possível relação entre o assassinato de Nilton Roratto e o de seu filho, Marcos Aurélio Roratto, executado em 19 de junho de 2015, três meses após o pai, o promotor assinala que não foi possível apurar a autoria e motivação. “Então não é possível afirmar se um fato tem efetivamente relação com o outro. É provável que tenha sim, mas nada foi de fato apurado para afirmar se existe vinculação ou não”, pontua Evandro Kaltbach.

Relembre o caso

Brigada Militar de São Marcos em frente à residência de Nilton Roratto, local do crime

Por volta das 15h do dia 15 de março de 2015, enquanto o advogado são-marquense Nilton Roratto, 62 anos, descansava na sala de estar de sua residência, no centro de São Marcos, o jovem Cleyton Goltz, com 21 anos na época, chegou à sua casa. Ele foi atendido pela esposa do advogado e invadiu a residência, disparando 5 tiros de revólver 38 em Roratto, que morreu na hora. O jovem saiu caminhando pelas ruas e embarcou num Kadett preto algumas quadras adiante. Conforme relembra o promotor de Justiça de São Marcos, Evandro Kaltbach, Cleyton foi preso logo após o cometimento do crime. “Já no mesmo dia havia indicativos da autoria do denunciado Cleiton Bonette de Moura Goltz, de modo que no mesmo dia já saiu o decreto de prisão preventiva dele. Ele estava na ocasião cumprindo pena por roubo, daquele assalto na casa do médico Rogério Zanol”, explica Kaltbach, detalhando que o acusado foi preso no dia 18 de março, quando retornou ao presídio após o período de saída temporária. “Ele ficou preso pelo homicídio até dia 12 de abril de 2016, quando foi concedida liberdade provisória, e daí ele foi para o Paraná, de onde é natural. Lá ele foi preso em flagrante por tráfico de drogas, no município de Cascavel, tendo sido condenado por isso. Em Curitiba, também foi pego com mais 95 gramas de maconha nas nádegas e preso também, sendo processado e condenado por novo tráfico, a 8 anos e 6 meses, numa decisão do dia 20 de novembro de 2020″, relata Evandro.

Conforme informa, Cleyton está preso no município de Montenegro (RS), em razão do segundo crime de tráfico. “Agora, com a condenação por homicídio, a juíza decretou prisão preventiva dele também. Então Cleyton está ao menos com duas prisões preventivas, uma pelo homicídio e uma pelo tráfico em Curitiba”, relata Evandro Kaltbach.

Família de Nilton Roratto: ‘mesmo não trazendo de volta nosso ente querido, agora temos justiça’

Filho de Nilton Roratto, Cristiano Roratto, que esteve presente no julgamento do autor do homicídio de seu pai, falou sobre o sentimento da família após a condenação do réu. “Em nome da família, quero dizer que estamos profundamente agradecidos e com sentimento de que, mesmo não trazendo de volta nosso ente querido, agora temos justiça. Foram 5 longos anos de dor, de saudade, de profundo sofrimento pela perda e a não certeza de haver justiça, perante a morte de quem me foi a pessoa mais importante na vida. Meu pai me foi e é referência de caráter, de trabalho, de seriedade, de hombridade e de pessoa humana, que valoriza e respeita a todos. De simplicidade e dedicação à família, ao trabalho e a uma cidade que ele escolheu e amava. Foram 5 longos anos de muito medo e temor de que não fosse feito justiça à morte de meu pai. Mas, graças a Deus, ontem, com as devidas proporções, me foi o dia mais longo mas também feliz desses últimos 5 longos anos. A condenação não me traz o pai de volta, mas se faz justiça a sua memória e sua dignidade de pessoa humana, que, mesmo discordando de alguns em determinados momentos, sempre respeitou a todos nessa cidade. É como se me fosse tirado de sobre os ombros um fardo gigantesco, pois agora com sentimento de que a justiça foi feita, nos sentimos em condições de voltar a viver”, assinala Cristiano Roratto.

‘Vamos recorrer até última instância, reivindicando pena máxima pelo crime cometido’

O filho de Nilton Roratto também agradece a comunidade de São Marcos e ao Ministério Público do Rio Grande do Sul. “Eu quero agradecer a toda comunidade são-marquense, que durante todo esse tempo não deixou de nos prestar apoio nas horas mais difíceis e foram muitas. A família agradece ao Ministério Público do Rio Grande do Sul, na pessoa do Dr. Evandro (Kaltbach), que, desde o primeiro momento, lá em março de 2015, esteve ao lado da verdade dos fatos e da justiça e nesse sentido nunca mediu esforços. Sempre esteve comprometido integralmente com a finalidade pela qual o Ministério Público existe que é de defender a ordem jurídica, a democracia, o interesse individual e social nesse país”, declara Cristiano, estendendo agradecimentos ao Poder Judiciário, servidores da Comarca de São Marcos e Brigada Militar de São Marcos. Contudo, Cristiano Roratto ressalta que a família não está satisfeita com a pena estabelecida ao réu. “Mesmo condenado, não nos damos por satisfeitos com o tempo de condenação e vamos recorrer até última instância, reivindicando pena máxima pelo crime cometido”, pontua o filho de Nilton Roratto.