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EMPRESAS
Gestores de RH e empresários debatem ações para problema da falta de mão de obra em São Marcos
Reunião foi realizada pela CIC na manhã desta sexta-feira (13), no Restaurante Biasottos (AMSM). Levantamento de dados, escola itinerante de qualificação e treinamento e política municipal de fomento à construção civil e habitação foram principais frentes levantadas
3 anos atrás
Na manhã desta sexta-feira, dia 13 de maio, a CIC São Marcos realizou evento com grande participação de gestores de RH e diretores de empresas locais – a partir das 7h45, no Restaurante Biasottos, junto à Associação dos Motoristas São-Marquenses (AMSM). Aberto a todos os segmentos, o evento teve como principal tema de debate a falta de mão de obra básica e também qualificada, dificuldade enfrentada pelo setor empresarial do município, com troca de ideias visando ações para solucionar o sério problema. Entre os empresários são-marquenses presentes na reunião, estiveram o diretor comercial da Fabbof, Valdir Fabbris, e o diretor da Bepo, Ricardo Rech. Como resultado da reunião realizada, foi definida como primeira ação a formação de um grupo de trabalho proposto pelo presidente da CIC São Marcos, Dorival Perozzo, que já conta com integrantes de empresas que se propuseram a trabalhar em cima das necessidades apontadas e realizar ações concretas.
O presidente da CIC São Marcos, Dorival Perozzo, iniciou o evento ressaltando a importância de conhecer a realidade do município para buscar soluções para o problema da falta de mão de obra. “Não importa o tamanho da empresa, o problema é o mesmo. Então estamos aqui reunidos para tratar da necessidade de mão de obra. Estamos abertos a todas as ideias, estamos aqui para conversar. Nós mesmos na CIC acabávamos tentando fazer alguma coisa e dando tiro no escuro. Nosso grande problema é saber a nossa realidade. O que a gente tem sentido hoje é que ninguém conhece a realidade no município. Qual é a mão de obra disponível, qual é a expectativa do futuro? Quem trabalha em São Marcos, quem trabalha em Caxias, quem vem de fora? Seria interessante conhecer essa realidade”, apontou Dorival.
‘Pensamos em fazer um levantamento de qual é o número da população ativa que temos em São Marcos’
Entre as ações elencadas pelos gestores de RH e diretores de empresas de São Marcos, destacou-se a realização de levantamento de censo de dados para traçar número de desempregados e pessoas empregadas no município, número total de vagas em aberto nas empresas do município e demanda de vagas existente por mapeamento de setor e funções. A gestora de RH da Bepo, Márcia Boff, revelou que a ideia de um levantamento de dados surgiu inicialmente na empresa e depois foi compartilhada com o presidente da CIC São Marcos, Dorival Perozzo. “Pensamos em fazer um levantamento de qual é o número da população ativa que temos em São Marcos, o número de mão de obra que temos disponível para trabalhar. Considerando essa mão de obra ativa, avaliar quantos por cento já estão empregados e distribuídos entre o comércio e a indústria. Vai sobrar um percentual de mão de obra que é X, mas sabemos que tem uma quantidade de pessoas que não vão trabalhar por opção, ou porque não tem necessidade, ou porque vão trabalhar em outras coisas. O que achamos importante é que, talvez, analisando os dados, cheguemos à conclusão de que a gente não tem só a necessidade de mão de obra, também não temos pessoas suficientes na cidade para suprir a demanda”, observou Márcia Boff.
A diretora da Metal C, Ana Paula Cechinato, apontou que o cruzamento de informações pode auxiliar para que as empresas com demandas de funcionários nas mesmas áreas possam se unir. “Há anos que a gente vem enfrentando esse problema. ‘Ah me falta um operador de dobradeira’, por exemplo. Algumas são funções mais simples e outras mais específicas, e acho que essas demandas já temos condições de buscar com as empresas, sabendo que o operador que falta para mim também falta para outras. Assim conseguimos formar algumas turmas para cursos e troca de ideias, eu acho que essa frente é o que a gente tem como fazer mais rápido”, opinou Ana Paula Cechinato.
‘A ideia que eu proponho é que talvez a própria CIC São Marcos disponibilizasse um programa (software), para que esse censo de dados saia dos próprios funcionários e os RHs organizem as informações’
Conforme propôs o diretor da NA Energia Solar, Nadir Campos da Silva, o censo de dados poderia ser organizado pelos próprios gestores de RH das empresas de São Marcos. “Se depender de órgão público, todos sabem que é muito burocrático. Então se nós ficarmos aguardando, vai demorar muito tempo, que é o que as empresas não têm. Então a ideia que eu proponho é que talvez a própria CIC São Marcos lançasse um programa de computador, para que esse censo de dados saia dos próprios funcionários e os RHs organizem as informações. Se tem uma pessoa da família trabalhando na empresa, talvez um pai que trabalha na Bepo e uma mãe na Fabbof, já vai se conseguir fazer esse censo e cruzar as informações das famílias, para nós conseguirmos agilizar um pouquinho esse processo. Até chegar numa parte onde as empresas vão ter que se juntar e analisar qual é a mão de obra que está sendo necessária. Eu acho que é a melhor maneira e a mais rápida de começar a resolver esse problema”, observou Nadir Campos da Silva.
A integrante do projeto Elos Hub, da CIC São Marcos, Isabela Borghetti, diretora da startup Boomatech, também comentou que o hub de inovação pode auxiliar no levantamento de dados. “Muitas empresas têm esse mapeamento interno, então a gente tem que juntar tudo isso. No Hub nós temos vários associados e parceiros que trabalham com TI, programação, e que conseguem colocar todas essas informações cruzadas de uma forma inteligente para que a gente chegue numa conclusão. Caso alguém ainda não esteja acompanhando, eu convido a participar da reunião que teremos na próxima terça-feira (17 de maio), onde a falta de mão de obra também será uma das pautas”, destacou Isabela Borghetti.
‘O pessoal não fica no município por causa do custo de moradia’
Também foi apontada durante o evento da CIC São Marcos nesta sexta-feira (13) a necessidade de fomento e políticas de apoio para aumento da oferta de moradias para aluguel no município e também facilitadores para aquisição da casa própria, em que foi enfatizada a demanda de uma política municipal mais focada no estímulo à habitação e construção civil. O sócio-diretor da Esquadrias São José, Genilson Marcon, relatou experiência vivida em sua empresa com funcionário que paga aluguel. “Há uma semana, um dos meus melhores funcionários já estava com mudança agendada para ir embora de São Marcos. Ele paga aluguel muito caro e já estava pronto para voltar a morar com o pai dele. Eu dei um aumento de salário e, a princípio, contentei ele, mas por quanto tempo eu não sei. Por isso hoje também tem que se trabalhar a questão social. Porque o custo de vida em São Marcos é muito caro. Se for procurar a quantidade de casas e apartamentos que tem para alugar, é mais caro do que em Caxias do Sul, porque tem muita demanda e pouco estoque disponível. Esse é um problema emergencial que eu vejo, porque o pessoal não fica no município por causa do custo de moradia”, apontou Genilson Marcon.
‘Pensar em como incentivar os jovens a terem vontade de começar desde o início, na primeira função da empresa’
Outra necessidade observada pelo setor empresarial de São Marcos foi a de um projeto de formação e qualificação nas escolas e a possível formação de uma escola itinerante em consórcio com empresas do município, para qualificação e treinamento dentro das atividades da indústria, onde há maior necessidade de trabalhadores. “A médio e longo prazo, precisamos preparar esses jovens para algumas indústrias. A mão de obra que mais falta é a básica. Voltando ao início do Senai, os melhores funcionários que se tem em matrizaria e liderança foram formados naquela época. Também para o futuro, precisamos preparar esses jovens que só ficam no celular, computador, mas também precisamos mais do que isso, porque as empresas não estão totalmente automatizadas”, assinalou o diretor comercial da Fabbof Valdir Fabbris.
A sócia-proprietária da Serra Telhas, Fernanda Cortes Molon, observou que a maior demanda existente nas empresas são-marquenses é a falta de mão de obra na área de auxiliar de produção. “É a função mais simples. E a gente pode pensar em como incentivar esses jovens a terem vontade de começar desde o início, na primeira função da empresa, e mostrar como eles podem crescer lá dentro e não já entrar como engenheiro, como administrador”, comentou Fernanda Molon.
‘Precisamos pensar logo em algo educacional para reter esse perfil de jovens que querem trabalhar com tecnologia, querem coisas diferentes, querem flexibilidade’
Gestora de RH da Bontempo, Daniela Zatta observou que o perfil profissional com maior rotatividade é o da faixa entre 18 e 30 anos e destacou que é necessária uma ação educacional voltada para esse público. “O perfil que está rodando são profissionais de 18 a 30 anos, que ainda estão na casa dos pais, ainda não têm esse compromisso financeiro da estrutura familiar. Eu percebo que é uma questão educacional, que precisa começar na escola, na adolescência. No Senai a gente não consegue mais cotistas, tem que buscar em Campestre da Serra, Vacaria, porque aqui em São Marcos não estamos conseguindo chamar esses menores para ir para o Senai. Precisamos pensar logo em algo educacional para reter esse perfil de jovens que querem trabalhar com tecnologia, querem coisas diferentes, querem flexibilidade, e a gente sabe que no nosso segmento é produtividade, resultado, funciona diferente. Então vamos ter que abrir, vamos ter que pensar em outras coisas”, pontuou Daniela Zatta.
‘Se várias empresas de ramos iguais se juntassem e dessem o treinamento de uma área, com parte teórica e parte prática, você não vai ter investimento em estrutura física, em maquinário’
O sócio-diretor da Esquadrias São José, Gilberto Marcon, destacou que as empresas de São Marcos poderiam fornecer funcionários experientes em determinadas áreas da indústria para ministrar aulas para os jovens. “Eu não sei qual seria a viabilidade da CIC de criar um departamento de ensino. Mas poderia, por exemplo, uma empresa como a Bepo fornecer um ou dois funcionários experientes na área de injeção para dar um treinamento, não um curso intensivo, mas alguma coisa mais básica. A Fabbof poderia dar uma aula sobre prensa, a J.Marcon sobre a questão visual, as esquadrias sobre a área da marcenaria. Enfim, se várias empresas de ramos iguais se juntassem e dessem o treinamento de uma área, com parte teórica e parte prática, você não vai ter investimento em estrutura física, em maquinário, aí você não depende mais do Senai, que faz mais de 15 anos que não tem maquinário novo”, apontou Gilberto Marcon.
Frente aos apontamentos dos gestores de RH sobre a necessidade de formação de jovens, a CIC São Marcos apresentou, durante o evento desta sexta-feira (13), resumo do projeto Jovens Talentos, que tem por objetivo desenvolver iniciativas de qualificação, educação e formação de jovens para inserção no mercado de trabalho, bem como, visa a capacitação constante da comunidade por meio de processos de aprendizagens e dinâmicas que garantam o interesse dos envolvidos e os resultados esperados do projeto. Foram elencadas as ações realizadas em 2021, como um evento aberto à comunidade visando sensibilizar os alunos para o contexto de mundo atual e a necessidade de preparo técnico e comportamental para um futuro mais promissor; e a programação de conteúdos para 2022 e 2023, que conta com ciclo de palestras, workshops, painéis e visitas às escolas que englobam os setores: indústria, comércio, serviços e agronegócio.
‘Em princípio deve haver a valorização do funcionário, o que eu faço para segurar o funcionário na empresa’
Presente na reunião da CIC, a presidente do Sindicato dos Trabalhadores Agricultores Familiares de São Marcos (Staf), Sandra Maria Corso Meneguzzo, salientou aos empresários a importância de também manter jovens na agricultura. “Eu perco muitos jovens da agricultura para as empresas. Hoje meu foco é segurar o jovem na agricultura. Vocês estão defendendo a empresa de vocês, porque precisam ter funcionários para a economia andar. Mas eu questiono como está a valorização do funcionário nas empresas de vocês? Qual é o comportamento do chefe, do diretor, para com o funcionário? Então acho que em princípio deve haver a valorização do funcionário, o que eu faço para segurar o funcionário na empresa”, destacou Sandra Meneguzzo. Conforme acrescentou, outro ponto importante é o suporte dado aos funcionários. “Eu acredito que as empresas têm que se unir. Se numa empresa tem um funcionário que se destaca, tem que colocar essa pessoa à disposição para ajudar os funcionários de outras empresas”, opinou Sandra Meneguzzo.