Apesar de ser um município de apenas 21 mil habitantes, São Marcos tem muitos talentos que se destacam mundo afora. E, com o apoio da internet, as fronteiras ficam ainda menores. As atenções, desta vez, se voltam à Cramento Motorcycles. Em meio a um ramo tímido, em que muitos entusiastas se resguardam em suas garagens, o arquiteto Augusto Borghetti Chinelatto, 29 anos, e o administrador de empresas Matheus Borghetti, 43 anos, se lançam com determinação ao mundo da customização de motocicletas. Os amigos transformam e criam novos conceitos para motos desde 2015 e, recentemente, conquistaram visibilidade internacional.

A Cramento Motorcycles foi pauta de um dos sites mais populares do mundo sobre customização de motocicletas, o Pipeburn. “Eles nos encontraram no Instagram, começaram a nos seguir, o cara me deu parabéns e pediu mais fotos. Eu mandei pra eles, mas sem saber o que iria acontecer. Alguns dias depois já tinha lá no site deles uma matéria super interessante, eles falaram todos os detalhes da empresa, da moto, da cidade, isso achei bem legal, porque fiz questão de dizer que era São Marcos, Rio Grande do Sul, Brasil, porque a maioria das motos que saem lá são de fora”, conta Augusto Borghetti Chinelatto.

A moto reverenciada pelo Pipeburn foi uma Suzuki DR650, ano 1999 (confira a matéria completa). Ela também está entre as 10 melhores motos customizadas do Brasil, no ranking do site Moto Cultura, o maior do país no ramo, e neste ano concorre a um destaque nacional. “Esse site também postou uma matéria nossa e falou que estamos entre os finalistas. Vai ter uma live no final do mês, em que eles vão escolher a melhor moto do Brasil em customização, e nós somos um dos finalistas”, anuncia Augusto.

O mesmo site também já havia reconhecido o trabalho da são-marquense Cramento Motorcycles em 2019. “No final do ano passado, o Moto Cultura, que no Brasil é o maior site desse meio, que mais gera conteúdo e tem mais qualidade de publicação, classificou nós entre as 10 melhores motos, com uma Fazer 250”, relata Augusto (confira a classificação). De acordo com avaliações dos sites em que alguns dos trabalhos dos são-marquenses foram publicados, o que se destaca na dupla é justamente a qualidade da execução. “O que todo mundo fala pra nós quando vem conversar é sobre o nível de acabamento, a gente tenta fazer o mais perfeito possível”, garante Augusto.

‘Maiores do mundo estão acompanhando o nosso trabalho’

Informalmente chamada de oficina, a Cramento Motorcycles é, na verdade, um estúdio de design. Além do fato de Augusto e Matheus se dedicarem também à criação de peças de mobiliário, o local realmente merece o título de estúdio, pois é onde nascem projetos cheios de autenticidade e estilo. “A gente fala oficina, mas é um estúdio de design na realidade. Com certeza a parte mais importante é o design, o desenvolvimento, fazer todo o processo, as proporções, e tenho certeza que foi isso que destacou nós lá fora”, analisa Augusto Chinelatto.

Ele ressalta que, justamente devido à criatividade envolvida em todo o processo e a exclusividade marcante de cada projeto, a Cramento vem se consolidando no mercado com um estilo próprio e conquistando um público cada vez maior de apaixonados por motos. O palco que expõe esse talento ao mundo é o próprio Instagram da marca, que deixa transparecer o olhar cuidadoso e contemporâneo. “Todo dia alguém vem comentar das motos no Instagram, e falam: ‘gostei muito do conceito de vocês, da pegada’, então dá pra ver que a gente está conseguindo criar uma identidade que é nossa, isso é bem legal, é uma coisa que a gente buscava”, destaca, reforçando que as criações da dupla já estão sob a mira de outros sites do ramo. “Estamos para mandar mais uma foto para outro site que começou a nos seguir, então os dois maiores do mundo estão acompanhando o nosso trabalho, e isso pra nós é muito gratificante”, afirma Augusto, um dos idealizadores da empresa.

Da criação à execução: ‘liberdade na hora de criar’

Ao contrário do que comumente se pensa, o trabalho de customização não é feito apenas em motos antigas ou clássicas, qualquer modelo pode receber uma repaginada na Cramento. Augusto relata que o que acontece com mais frequência é que os clientes já possuem uma moto em casa, muitas vezes parada na garagem, e buscam dar uma nova cara ao veículo. “Normalmente o cliente tem a moto e quer customizar, por isso chega até nós”, comenta. O trabalho desenvolvido pela Cramento Motorcycles é bastante artesanal. Ele pode iniciar ainda no momento da escolha de uma moto junto com o cliente e finaliza somente com a entrega do produto completamente customizado.

Mas, de acordo com o que detalha Augusto Chinelatto, esse processo passa por diversas etapas, que nem sempre são fáceis, podendo demorar de quatro meses a um ano para serem concluídas. “Conforme a necessidade do cliente, a gente desenvolve todo o projeto, com o nosso estilo de customização. Montamos o projeto, orçamento e partimos pra execução. A gente coloca na cabeça algo que vamos fazer e, se não tem pronto, a gente dá um jeito de desenvolver dentro do estúdio. Muita coisa tem que ser comprada de fora, ou na internet achamos alguma coisa no Brasil, mas muita peça, principalmente de finalização, farol, pisca, velocímetros, essas peças mais especificas vêm de fora”, pondera. De acordo com Augusto, os projetos desenvolvidos pelos são-marquenses têm valores que variam de acordo com os materiais necessários ou escolhidos pelos clientes, podendo valer de R$ 8 mil até R$ 30 mil. “Motos menores a partir de 8 mil dá para fazer um projeto completo, e vai até o valor que o cliente quiser gastar, é quanto ele estiver disposto a investir”, assinala.

Augusto e Matheus contam com parceria de oficinas mecânicas locais para desenvolver algumas etapas do projeto, mas a ideia e a customização ficam a cargo da Cramento Motorcycles. “As partes mais funcionais, alguma coisa mais especifica, temos mecânicos que são parceiros nossos e terceirizam esse serviço. Então a gente entrega a moto pronta pro cliente, mas ficamos mais na questão de criação e desenvolvimento de todo o conceito da moto, esse é o foco do negócio”, detalha. A dupla trabalha apenas sob demanda, atendendo às especificações de cada pedido e seguindo o estilo próprio da marca. “São todos projetos únicos, a gente gosta de ter bastante liberdade na hora de criar a moto. O cliente fala se quer a moto pra viajar, ou quer só pra dar uma volta, se quer só pra uma pessoa, ou pra duas”, informa.

‘Foi na garra, não sabia nada’

Augusto Borghetti Chinelatto, que é formado em Arquitetura e Urbanismo, destaca que a ideia de abrir a oficina surgiu despretensiosamente, a partir da proposta de customizar a moto de um amigo. “Conversando com amigos que tinham oficina de moto, eles me emprestaram um canto da oficina e eu encarei, sem saber o que estava fazendo, só tinha vontade mesmo”, lembra. Com o tempo, o espaço próprio acabou se tornando uma realidade com a parceria de Matheus Borghetti. “Esses amigos vieram a fechar a oficina e eu fiquei meio sem saber o que fazer. Nesse meio tempo eu achei um sócio, o Mateus Borghetti, que também estava mexendo em uma moto e agora temos um espaço que é nosso, botamos a cara e estamos fazendo”, detalha o arquiteto.

Ele conta que o conhecimento para executar esse trabalho surgiu na prática mesmo, baseado na confiança dos primeiros clientes. “O conhecimento foi na prática, na garra, não sabia nada, foi vendo fórum na internet, vídeo no YouTube, pesquisando, perguntando pra muita gente. Tu acaba indo num lugar procurar uma peça e troca uma ideia, já aprende fazer alguma coisa, mas foi na prática. A gente comprou uma máquina de solda na internet e aprendi soldar vendo vídeo no YouTube, me orgulho disso. É um eterno aprendizado, cada moto que a gente faz é um desafio”, relata.

A intimidade com os processos criativos, no entanto, já é uma característica de Augusto e Matheus, visto que o estúdio também é palco para a criação de projetos de design de móveis. Ao conversar com Augusto, fica claro que tantos reconhecimentos são fruto, não apenas de dedicação, mas de amor e talento pelo que se faz. “Sempre tive esse lado da criação, essa vontade de botar a mão e criar algo. Acho que eu acabei indo para esse lado das motos, porque eu gosto muito de motos na vida pessoal, eu corria de motocross. Então acho que foi o jeito que eu achei pra botar minha criatividade pra fora. O que realmente me toca são as motos, com certeza é o que eu gosto, me sinto bem e sei que eu tenho capacidade para cada vez avançar mais”, declara Augusto Chinelatto.