-
CORONAVíRUS
EDUCAçãO
Justiça mantém aulas presenciais suspensas: ‘a posição do município é de permitir, mas dependemos das decisões do Judiciário e do Estado’
Tribunal de Justiça não atendeu pedido do Executivo estadual para retomada das aulas presenciais no Rio Grande do Sul. Retorno estava previsto para esta quarta-feira (28)
4 anos atrás
Imagem apenas ilustrativa
Nesta segunda-feira, dia 26 de abril, o Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul decidiu, por três votos a zero, não atender a três tentativas de liberação das aulas presenciais no Estado. Com isso, não está autorizado o retorno da Educação Infantil e do primeiro e segundo anos do Ensino Fundamental às escolas. Diante da decisão judicial, o governador Eduardo Leite deve classificar todas as regiões em bandeira vermelha nas próximas horas desta terça-feira (27). Com a publicação de decreto, poderão funcionar o ensino infantil e os anos iniciais do ensino fundamental. Ao longo da manhã, Leite convocou uma reunião emergencial com deputados e prefeitos para tratar do assunto.
Com base no anúncio realizado na sexta-feira (23), pelo Governo do Estado, de que haveria cogestão da bandeira preta para a área da educação, o município de São Marcos havia organizado a volta às aulas presenciais da Educação Infantil e 1º e 2º ano do Fundamental para esta terça-feira (27). Após o impasse com o Tribunal de Justiça, se o retorno tivesse sido permitido no julgamento desta segunda-feira (26), os alunos da rede municipal retornariam às escolas nesta quarta-feira (28). Já os alunos da rede privada e estadual de ensino deveriam aguardar orientações de sua escola quanto a data de retorno.
A Secretaria de Educação de São Marcos informa que, durante o último fim de semana, bem como neste início de semana, esteve em contato com municípios vizinhos e com a 4ª Coordenadoria Regional de Educação, e atenta aos comunicados do Judiciário e Estado, a fim de buscar informações e manter o diálogo com as instituições de ensino da cidade através do COE Educação local. De acordo com a secretária municipal de Educação, Tatiane Borghetti Zulian, “a posição do município é de permitir as aulas presenciais a todos os pais e alunos que sentirem-se seguros com o retorno, garantindo que os protocolos de higiene serão aplicados em todos os ambientes escolares. Porém, dependemos das decisões do Judiciário e do Estado”. Ela lamenta ainda que haja esse desencontro de informações que fez com que as escolas e pais tivessem que se reprogramar por inúmeras vezes nos últimos dias.
Diretora da Escola Primeiros Passos: ‘não faz sentido, nós como educadores, lutarmos contra o ensino presencial’
A professora e diretora da Escola de Educação Infantil Primeiros Passos, Karin Perin, destaca que a instituição defende, desde 2020, a permanência da educação presencial, de escolas públicas ou privadas, do ensino médio, fundamental e, principalmente, da educação infantil, da qual a escola faz parte. “Defendemos também a permanência do ensino presencial nas escolas dos cursos livres e também técnicos. Porque não faz sentido, nós como educadores, lutarmos contra. Quando não se está contente com algo nós devemos buscar as mudanças, e não prejudicar o outro pelas nossas escolhas. Assim também tem que ser na profissão, principalmente na de professor, porque o papel do professor é formar cidadãos, pessoas críticas, instruídas, conscientes. Nós devemos fazer por amor, porque nós lidamos com seres humanos. Nós não lidamos com máquinas. É isso que tem que ficar muito claro”, assinala a educadora.
Karin Perin lembra que, no último mês de março, organizou carreata de professores e pais de São Marcos, pedindo o retorno das aulas presenciais nas escolas. “Quando nós nos manifestamos em carreata para o retorno das aulas presenciais, as críticas foram imensas. Principalmente de alguns colegas, justamente aqueles que estão formando cidadãos. E essa atitude não faz sentido. Os profissionais da Educação que contraíram o vírus da covid-19 com as escolas fechadas, onde que o contraíram? Nas aulas online? Será que o vírus só circula dentro e no horário que as escolas estão abertas? Nós não vivemos numa bolha. O que é essencial para mim pode não ser para o outro e vice-versa. Isso é uma questão de empatia”, opina Karin, salientando que o retorno das aulas presenciais não pode depender da vacinação contra a covid-19. “Nós também não podemos associar o retorno das aulas com a vacina. O profissional que passa as nossas compras no supermercado, o vendedor que nos atende nos mais diversos setores, o motorista que trafega o Brasil inteiro para que não nos falte alimento, remédio, insumo, também não estão tendo prioridade e todos deveriam ter prioridade e direito à vacina”, aponta Karin.
‘Alguém pensou como é para uma criança ou adolescente aprender de forma online?’
Conforme ressalta a professora, todas as escolas seguem os protocolos, sejam do município ou do Estado, para estarem abertas. “Nenhuma escola estaria pedindo para abrir se não estivesse dentro da lei. Escola aberta não quer dizer que ninguém possa contrair o vírus, mas pra que isso não ocorra nós seguimos rigorosamente os protocolos de segurança. Com as escolas fechadas, alguém pensou onde os pais deixariam os filhos? Alguém pensou nos profissionais que poderiam ser demitidos? Alguém pensou como é para uma criança ou adolescente aprender de forma online, se mesmo um adulto não suporta mais de 45 minutos na frente de um computador? Educação é um direito de todos e cabe aos pais o direito de escolha se o filho vai ou não para a escola de forma presencial. A educação perdeu muito com essas paradas o ano passado, e vai demorar muito para a retomada. E as perdas vão além do pedagógico”, ressalta Karin Perin.
‘Educação Infantil deve parar de ser vista como um depósito de crianças’
A diretora da Escola Primeiros Passos também responde às críticas de que o único interesse das instituições privadas no retorno das aulas presenciais seria de cunho financeiro. “Muitos apontam que nós temos somente interesse de cunho financeiro, e isso é uma inverdade. Além de escolher a educação, aqui na Primeiros Passos nos priorizamos vínculos de afeto e amor. Somos um prestador de serviços para aqueles pais que, assim como nós, acreditam numa educação e numa escola diferenciada. Educação infantil deve parar de ser vista como um depósito de crianças. Aqui nós trabalhamos com aprendizagem ativa, que tem que fazer sentido para as crianças”, frisa Karin.
Ela destaca que a escola é uma prestadora de serviços, que paga impostos e gera empregos. “Para que todas as salas estejam limpas, precisamos de um colaborador que o faça. Para que o ensino seja feito, nós precisamos de colaboradores que também precisam do emprego, para pagar o ensino superior, para contribuir com as despesas de casa. Nós pensamos todos os anos em melhorar as condições de estruturas para os nossos alunos e profissionais. ‘Ah mas a escola privada só pensa no dinheiro’. Não, a escola privada investe naquilo que acredita. Quando o olho brilha, a educação faz sentido. Por isso, mesmo diante de toda a dificuldade e críticas sociais, a Escola Primeiros Passos, quantas vezes for necessário, vai estar aberta com toda a segurança e protocolos recebendo os seus pequenos”, pontua Karin Perin.