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    ‘O princípio destas vacinas é bem conhecido, não precisa ter medo de ser vacinado’

    Confira entrevista com o médico Roberto Pessini, um dos responsáveis pelo atendimento aos pacientes com covid-19 no Hospital São João Bosco, em São Marcos, que alerta para a importância da vacinação contra o vírus

    4 anos atrás

No último dia 20 de janeiro, iniciou a vacinação contra a covid-19 em São Marcos. Os profissionais de saúde que atuam na linha de frente da pandemia foram os primeiros a serem imunizados, recebendo a primeira dose da vacina CoronaVac, produzida pelo Instituto Butantan com o laboratório chinês Sinovac. A aplicação da segunda dose está prevista para o dia 10 de fevereiro. O cirurgião gastroenterologista Roberto Pessini, um dos médicos responsáveis pelo atendimento aos pacientes com covid-19 no Hospital São João Bosco, em São Marcos, relata a sua experiência após ser vacinado. “Está tudo bem, graças a Deus, não tive reação nenhuma e estou muito aliviado por ter sido vacinado”, assinala o médico.

Roberto Pessini foi um dos profissionais da saúde vacinados em São Marcos
Roberto Pessini foi um dos profissionais da saúde vacinados em São Marcos

Conforme observa Pessini, apesar do aguardado início da vacinação, é provável que demore alguns meses até que a população do Brasil seja toda imunizada. “Podemos ver nas reportagens que provavelmente haverá um certo atraso na questão da vacinação, porque os insumos para serem feitos as vacinas vêm da China e não foram enviados ainda. Existe um estoque no Instituto Butantan, em torno de 4 milhões de doses da vacina ainda, mas, infelizmente, para a produção de mais vacinas dependemos da vinda destes insumos. Eu acho que vai demorar muitos meses para termos uma quantidade ideal de vacinas, para vacinar toda a população brasileira e, proporcionalmente, aqui em São Marcos. Em todo o mundo está havendo atrasos em relação à entrega das doses das vacinas, então vamos ter que aguardar e usar o que tiver disponível”, visualiza Roberto Pessini.

CoronaVac, Oxford e Pfizer: ‘todas fazem o fundamental, que é proteger contra as formas graves da covid-19’

A pedido do L’Attualità, o médico Roberto Pessini detalha as diferenças das vacinas CoronaVac e Oxford/Astrazeneca, já aplicadas no Brasil, e Pfizer-BioNTech, vacina de empresa alemã em parceria com os Estados Unidos – que ofertou entrega de 2 milhões de doses no primeiro trimestre de 2021, número considerado insuficiente pelo Brasil. Conforme explica Roberto Pessini, a vacina CoronaVac utiliza um vírus inativado semelhante ao usado nas vacinas contra a gripe e Hepatite A, que faz o organismo humano criar defesas contra a covid-19. Já a vacina Oxford/Astrazeneca utiliza um vírus respiratório, um adenovírus, que infecta chimpanzés. “A vacina de Oxford usa partículas de um adenovírus que ocorrem em macacos, ou seja, é inofensivo para nós humanos, e são colocadas partículas do covid-19 neste vírus. Aí o nosso corpo reconhece esta partícula e cria a imunidade contra o coronavírus”, detalha Roberto Pessini.

Ele salienta que as duas vacinas utilizam um método diferente da Pfizer. Em vez de injetar um vírus no paciente, a Pfizer tem outro meio de “enganar” o organismo: ela contém apenas uma série de instruções em uma sequência de RNA sintético (material genético) envolta por nanopartículas lipídicas (ou uma pequena capa de gordura). Esse RNA sintético é absorvido pelas células, que interpretam as instruções e começam a produzir proteínas virais. “São 3 processos diferentes de realização dessas vacinas e os 3 são processos válidos, porque todas fazem o fundamental, que é proteger contra as formas graves de covid-19”, assinala Roberto Pessini.

‘A Influenza H1N1 também foi um problema sério de saúde pública e que foi resolvido com a vacina’

O médico também esclarece a questão da eficácia de 50% comprovada nos testes da vacina CoronaVac, ressaltando que os resultados dos outros 50% dos testes também são relevantes. “50% está tudo bem, mas o que aconteceu nos outros 50%? São aquelas pessoas que tiveram um pouco de sintomas, como nariz escorrendo, um pouco de dor de cabeça, um pouco de tosse, então foram sintomas leves, como acontece com a vacina da gripe. Por exemplo, quando uma pessoa diz ‘Ah, eu tomei a vacina da gripe, mas fiquei gripado’, sim, mas você teve uma gripe leve, não desenvolveu aquele quadro de insuficiência respiratória que pode dar uma gripe. A Influenza H1N1 também foi um problema sério de saúde pública e que foi resolvido com a vacina, porque protege contra as formas graves da doença, assim como as vacinas contra a covid-19. As estatísticas que nós temos em relação ao CoronaVac é que não houve casos graves com as pessoas que aplicaram a vacina, e é isso que interessa. É melhor ficar um pouquinho gripado do que ser entubado”, destaca Roberto Pessini.

Em relação a vacina Pfizer, o médico ressalta que a aplicação da mesma no Brasil teria problemas de logística. “O problema da Pfizer é na questão da logística dela, porque ela tem que ser refrigerada a -70° C. No nosso país, com as distâncias que existem, imagina a logística para vacinar no interior, por exemplo? Vai ser muito difícil. Talvez nos grandes centros, em que existe disponibilidade de armazenamento, dê certo, mas no Brasil, muitas vezes não existe as condições para refrigeração desta vacina. Então eu acho que a gente vai ter que investir e tentar produzir o máximo possível das vacinas da China e de Oxford”, aponta Roberto Pessini.

‘Fazer a vacina e deixar as questões políticas de lado’

Roberto Pessini também comenta sobre a politização da vacina no Brasil, alertando que a população não deve ter medo de ser vacinada contra a covid-19.  “Houve uma politização desde o início da pandemia, e que infelizmente refletiu na saúde das pessoas. Na realidade, em meio a isso tudo, se viu que o mais importante é a realização do uso da máscara, uso do álcool gel, lavar as mãos e o distanciamento social. Não se viu a necessidade de fechar tudo, como se tinha ideia no início, e começou esta briga com uns dizendo que tinha que parar tudo, outros dizendo que não tinha. Também teve a questão de algumas medicações, que se viu que atualmente não existe eficácia, nenhuma medicação que previna o covid-19.  E agora até na vacina está havendo esta disputa, em virtude de quem vai fornecer antes, etc”, aponta o médico.

Roberto Pessini destaca a importância de que as pessoas acreditem na vacina independente de legendas partidárias. “Nós temos que nos ater ao fornecimento das vacinas para todos e a população não pode ter medo de ser vacinada. Com toda esta confusão, tem muitos pacientes meus que estão me perguntando se é para vacinar ou não, porque estão com medo, isso está refletindo nas pessoas. Isso é um absurdo. A gente tem que esclarecer mais do que nunca a necessidade de se fazer a vacina e deixar as questões políticas de lado”, frisa Roberto Pessini. Conforme observa, a única medida que se mostrou eficaz para diminuir a mortalidade em relação ao covid-19, em termos de prevenção, é a vacina. “O princípio destas vacinas, tanto da China quanto de Oxford, é bem conhecido. São tecnologias já usadas em muitas outras vacinas, ou seja, não precisa ter medo de ser vacinado”, reforça Roberto Pessini.