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GERAL
Denúncia de desvio e revenda ilícita de materiais da Corsan de São Marcos: ‘funcionário envolvido não está agindo sozinho’
Delegado da Polícia Civil de São Marcos, Rafael Keller, dá detalhes sobre investigação de denúncia de revenda de materiais verificados da Corsan. Gerente da companhia no município, André Viana, justifica que houve pagamento de tubos emprestados por empresa particular para a prefeitura para substituição de rede de água
3 anos atrás
Sede administrativa da Corsan de São Marcos
A Polícia Civil de São Marcos está investigando a denúncia de desvio e revenda indevida de materiais da Corsan do município, que teria sido realizada por um funcionário da companhia. Conforme informações do delegado da Polícia Civil de São Marcos, Rafael Felipe Keller, a investigação já encontrou canos com verificação da Corsan em locais onde a empresa não possui documentação de obra realizada. “Esse funcionário da Corsan estaria revendendo equipamentos da Corsan indevidamente, sendo que esses materiais, conforme o superintendente regional da Corsan, não são revendidos e só podem ser utilizados em obras públicas. Nós encontramos em uma rede de água uma instalação de canos com verificação da Corsan, em uma localidade em que a empresa não tem nenhuma documentação de obra. E o proprietário dessa casa, no depoimento, nos disse que teria adquirido esse cano da Corsan”, revelou o delegado ao L’Attualità, na tarde desta sexta-feira, dia 3 de setembro.
‘Investigação apurará o maior número de pessoas envolvidas na revenda de material da Corsan de São Marcos’
Conforme detalha o delegado Rafael Keller, a Polícia Civil também apreendeu canos verificados da Corsan em outra residência, antes de serem instalados. “Conseguimos chegar antes da instalação e fazer a apreensão desses canos, dos quais a Corsan também não tem nenhuma documentação de venda. Então, a princípio, esses canos também estavam ali de forma indevida, foram adquiridos indevidamente pelo proprietário dessa casa”, explica Keller. De acordo com o delegado, a investigação apurará o maior número de pessoas envolvidas na revenda de material da Corsan de São Marcos. “Esse funcionário envolvido não está agindo sozinho, mas ainda não podemos divulgar quantas pessoas são, para não prejudicar as próximas diligências. Até o momento temos a confirmação da participação de funcionários apenas de São Marcos, mas vamos apurar se há envolvimento de alguém de fora da cidade. Nada impede que isso vá ser descoberto no decorrer do inquérito”, ressalta Rafael Keller.
Conforme detalha, a investigação apurou, até o momento, que a prática ocorreu em 2021. “Mas também já fiquei sabendo de fatos semelhantes que aconteceram em anos anteriores e que foram objeto de apuração pelo Ministério Público. Pelo jeito é uma prática que acaba sendo recorrente”, aponta o delegado da DP de São Marcos. Conforme acrescenta, as pessoas que adquiriram o material da Corsan indevidamente e já foram ouvidas pela Polícia Civil apresentaram comprovantes de pagamento, em cheque e depósito bancário, tendo pessoas físicas como beneficiários.
‘Se as pessoas adquiriram esse material por um valor muito baixo ou sabendo que era ilícito, elas também podem responder por isso criminalmente’
Segundo o delegado Rafael Keller, a investigação está apurando de qual forma ocorreu o anúncio do material para a venda indevida. “Estamos buscando apurar para ver como era feito o anúncio. O correto seria que o morador fosse numa loja de material de construção ou uma loja de encanamento específico para adquirir esses materiais. Temos os valores pelos quais os materiais foram revendidos e estamos analisando para ver o que seria um valor de mercado coerente. Porque, se as pessoas adquiriram esse material por um valor muito baixo ou sabendo que era ilícito, elas também podem responder por isso criminalmente”, revela Rafael Keller.
Funcionário suspeito de revender materiais da Corsan será o último a ser ouvido no inquérito
O delegado da Polícia Civil de São Marcos esclarece que o funcionário suspeito de revender materiais da Corsan ainda não foi ouvido na Delegacia. “No inquérito, o último a ser ouvido é o suspeito, até para ele poder se defender de tudo que foi coletado no decorrer da investigação. Ele vai ser ouvido no momento oportuno”, informa Rafael. Segundo ele, o gerente da Corsan de São Marcos, André Viana, também não foi ouvido pela Polícia Civil até o momento. “Quem está nos passando as informações necessárias é o superintendente regional da Corsan, na medida que ele tem o poder de decidir algumas questões que precisávamos saber. Para ele, esse caso não era de seu conhecimento e, até o momento, tudo que precisamos saber ele nos forneceu, sempre demonstrando interesse em resolver o fato da melhor forma possível”, frisa o delegado de São Marcos.
Promotor instaura inquérito civil para apuração de denúncias de irregularidades contra a Corsan de São Marcos
Após receber expediente emitido pela Promotoria de Defesa do Patrimônio Público de Porto Alegre, a Promotoria de Justiça de São Marcos instaurou, nesta quinta-feira (2), inquérito civil para apuração de denúncias de irregularidades contra a Corsan de São Marcos, envolvendo o pagamento a empreiteira contratada por serviços que não foram realizados e a venda de bens (canos de rede) a particulares de forma indevida. “Eu recebi e instaurei um inquérito civil e oficiei a Corsan, solicitando formação de auditoria com remessa da conclusão posteriormente. Deixei de encaminhar à Delegacia de Polícia Civil justamente porque a Delegacia de Combate à Corrupção de Porto Alegre (Decor) já tomou essa providência. Então estou no patamar de aguardo da investigação policial e da auditoria da Corsan neste primeiro momento”, informou o promotor de Justiça de São Marcos, Evandro Kaltbach, ao L’Attualità nesta sexta-feira (3).
Conforme explica, o objeto de investigação é o pagamento pela Corsan de serviços não realizados e a venda indevida de material a particulares. “Então é prejuízo ao erário público por pagamento de serviço não realizado e a venda de bens, no caso os canos, de patrimônio público a particular de forma irregular, é esse o objeto deste novo expediente que por hora não tenho maiores elementos de prova para emitir um juízo de valor. Com relação aos canos não tenho elemento de prova algum por enquanto”, salienta o promotor.
Delegacia de Combate à Corrupção de Porto Alegre acompanha investigação
De acordo com Evandro Kaltbach, a Delegacia de Combate à Corrupção de Porto Alegre encaminhou expediente à Promotoria de Defesa do Patrimônio Público de Porto Alegre e também à Delegacia de Polícia Civil de São Marcos para que as denúncias sejam apuradas.
Gerente da Corsan André Viana: ‘prefeitura pediu canos emprestados de empresa e a Corsan ficou de pagar’
Procurado pela reportagem do L’Attualitá, o gerente da Corsan de São Marcos, André Viana, explica que a companhia estava devendo os canos para uma empresa que emprestou o material para a prefeitura de São Marcos e os mesmos foram utilizados pela Corsan para a instalação de uma nova rede de água na Rua Genoefa Brunello Fortunatti, na saída para Santo Henrique. “Essa demanda gerou por causa de uma empreiteira que estava fazendo serviço de calçamento para a prefeitura e não para a Corsan. Nesse calçamento, por ser financiado pela Caixa, tem que trocar o esgoto e, ao fazer isso, a empreiteira quebrou toda a nossa rede de água, quebraram metros e metros de rede. Eles foram quebrando e a Corsan foi consertando, até que chegou num ponto que não foi mais viável consertar, que era tanto conserto que nós teríamos que trocar a rede. Então eu fui chamado pela prefeitura para fazer a substituição dessa rede. Isso aconteceu na terça-feira de Carnaval desse ano. Eu aleguei que a Corsan de São Marcos não tinha tubo para trocar aquela extensão, porque realmente a gente não tem. Quando recebemos canos daquela bitola, recebemos 48 metros quadrados por mês, e ali se tratava de quase 400 metros quadrados. Então a prefeitura pediu emprestado de empresa e a Corsan ficou de pagar aqueles canos”, relata André Viana.
‘Empréstimo foi pago em tubos e em dinheiro’
Conforme detalha o gerente, os tubos emprestados pela empresa foram devolvidos em tubos e também em dinheiro pela Corsan. Conforme alega o gerente André Viana, parte dos tubos foi repassado para alguns moradores que precisavam com urgência e foi cobrado em dinheiro deles para repassar o valor para a empresa que emprestou os canos para a Corsan. “Parte desses tubos, para quebrar o galho de um ou outro usuário que estava fazendo extensão de rede, pegamos em dinheiro para repassar em dinheiro para a empresa que nos emprestou e o resto devolvemos para a empresa em tubos, e ainda estamos devendo porque era um volume grande de tubos”, assinala André Viana.
O gerente da Corsan salienta que o valor estimado dos tubos no comércio seria de R$ 1.800, contudo o valor cobrado aos moradores foi menor. “Isso porque era repassado não como venda, era como uma gentileza para ajudar os usuários, porque, naquele momento, em virtude da pandemia, não havia nem tubos para vender, nem Amanco nem Tigre estavam entregando, aliás, nem para a Corsan eles não estavam entregando por ser um momento de escassez”, revela André Viana.
André Viana: ‘Funcionário que está sofrendo um processo demissional dentro da Corsan é quem está fazendo todas essas denúncias’
O gerente da Corsan de São Marcos ressalta que o superintendente regional da companhia também está a par do empréstimo de tubos. “Inclusive, quando surgiu essa primeira demanda, eu pessoalmente fui lá explicar a situação para ele, pedi que ele viesse a São Marcos para fazer uma reunião com as pessoas envolvidas para que ele tomasse ciência e ele não veio”, relata André. Ele se diz surpreso que o caso ainda esteja sendo investigado, visto que o dono da empresa que emprestou os canos para a prefeitura já prestou esclarecimentos para a Polícia Civil de São Marcos. “Ele já foi lá na Delegacia, já esclareceu isso e continuam investigando. Não chamaram a prefeitura, que era parte envolvida; não me chamaram, representando a Corsan, que também é parte envolvida; e aí um funcionário que está sofrendo um processo demissional dentro da Corsan, por isso que está fazendo todas essas denúncias, está sendo ouvido”, reclama André Viana.
Denúncias de irregularidades em ordens de serviço cobradas da Corsan: ‘investigação começará do zero’
Questionado pela reportagem se a Polícia Civil de São Marcos está investigando as denúncias de irregularidades em ordens de serviço que originaram cobranças à Corsan no município por serviços realizados pela prefeitura, o delegado Rafael Keller destaca que não há informações suficientes sobre o caso e ainda será iniciada investigação. “Não nos foi oficialmente repassado nada sobre isso. Existe um expediente antigo na Delegacia que estava apurando esse fato e teria sido remetido pra Porto Alegre, para fazer a apuração dos fatos. Quando eu cheguei na Delegacia de São Marcos esse caso não estava conosco, então estamos buscando informações para ver realmente o que aconteceu. Mas a investigação começará do zero, porque o indício é uma notícia jornalística e, com base nisso, vamos verificar e agregar mais informações na nossa investigação”, pontua o delegado Rafael Keller.