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    ‘A perspectiva é que grande número de casos de covid-19 se mantenha nas próximas semanas’

    Confira entrevista com o médico Roberto Pessini, um dos responsáveis pelo atendimento aos pacientes com covid-19 no Hospital São João Bosco, em São Marcos, que define atual momento como o pior período da pandemia da covid-19 no município: 'Nunca estivemos numa situação como estamos agora'

    4 anos atrás

58 casos positivos de covid-19 foram confirmados nesta segunda-feira, dia 8 de março, em São Marcos, sendo o maior número de positivados já registrado no mesmo dia no município durante a pandemia. Também nesta segunda (8), São Marcos registrou o 20º óbito por covid-19.

O paciente, um homem de 81 anos, estava internado na UCI (Unidade de Cuidados Intensivos) do Hospital São João Bosco, aguardando por uma vaga em leito de UTI em hospital da região. Ele foi diagnosticado com covid-19 através de teste de antígeno no dia 19 de fevereiro, na mesma data em que foi hospitalizado pela primeira vez no HSJB. Em 24 de fevereiro o paciente recebeu alta, mas teve que ser novamente internado no último dia 3 de março em leito clínico. A transferência para a UCI do Hospital ocorreu em 6 de março, após piora do quadro. O paciente veio a óbito na manhã desta segunda-feira (8). O COE (Centro de Operações de Emergência) já recebeu Declaração de Óbito e realizou notificação ao Estado.

Hospital São João Bosco tem 15 pacientes internados, entre positivados e suspeitos

Até esta segunda-feira (8), São Marcos registrava 1.618 casos confirmados de covid-19, sendo 1.473 já recuperados e 124 ativos. No Hospital São João Bosco, 10 pacientes de São Marcos com covid-19 estão internados, desses, 3 pacientes estão na UCI, aguardando leito de UTI na região. Também estão internados 5 pacientes com suspeita para a doença. Um paciente de São Marcos está internado na UTI do Hospital da Unimed, em Caxias do Sul.

Devido à lotação dos hospitais da região, o HSJB também está atendendo sete pacientes de municípios vizinhos. O Hospital emitiu comunicado na tarde desta segunda-feira (8), suspendendo visitas e as cirurgias eletivas, devido ao agravamento da crise provocado pela covid-19.

Roberto Pessini: ‘Houve um aumento muito expressivo de uma semana para cá no número de casos. É preocupante’

O cirurgião gastroenterologista Roberto Pessini, um dos médicos responsáveis pelo atendimento aos pacientes com covid-19 no Hospital São João Bosco, avalia o atual cenário da pandemia no município, destacando o aumento expressivo de casos da doença na última semana. “De ontem (8) para hoje (9) 2 pacientes tiveram que ser entubados e estão aguardando UTI para transferência. A situação está bem dificil, pela quantidade de pacientes que temos internados, vários usando máscara de oxigênio, e já demonstrando sinais de que desenvolveram uma pneumonia maior e mais intensa. Estão chegando pacientes a toda hora, inclusive nos consultórios. Estamos atendendo muitos pacientes positivos e suspeitos, que aí temos que solicitar o teste. Houve um aumento muito expressivo de uma semana para cá no número de casos. É preocupante, porque a perspectiva é que esse grande número de casos se mantenha essa semana, semana que vem e talvez até na outra”, alerta o médico.

‘Mais do que nunca há a necessidade da manutenção do distanciamento social, do uso da máscara e da higiene das mãos’

Roberto Pessini define o atual momento como o pior período da pandemia da covid-19. “Nunca estivemos numa situação como estamos agora, esse é o pior momento da pandemia. Mais do que nunca há a necessidade da manutenção do distanciamento social, do uso da máscara e da higiene das mãos, isso é o fundamental. E todos que tiverem a oportunidade de se vacinar, se vacinem”, ressalta Roberto Pessini.

‘Relaxamento de medidas de prevenção é o principal fator que motivou aumento de casos de covid-19’

Questionado pela reportagem sobre qual seria o principal fator que influenciou para o momento crítico da pandemia da covid-19, Roberto Pessini aponta o relaxamento das medidas de prevenção contra o vírus. “Acho que é um conjunto de fatores, mas o principal é o relaxamento das medidas de distanciamento, do uso de máscaras. Eu até fiquei um fim de semana na praia no período do carnaval, fui dar uma volta de carro e vi que estavam agindo como se nada estivesse acontecendo, um amontoado de gente, uma grande quantidade de pessoas sem uso de máscaras, conversando e bebendo. E acho que a gente está colhendo os frutos disso agora”, assinala Roberto, ressaltando também que novas variantes do vírus da covid-19 já estão circulando no Estado. “Tem também as novas variantes que, a principio, está se indicando que elas são mais agressivas do que a anterior. Então acho que isso também está favorecendo a disseminação do vírus”, observa o médico.

‘Está havendo uma migração de casos mais severos na faixa dos 40 e 50 anos’

Conforme revela Roberto Pessini, casos mais graves da covid-19 em pessoas mais jovens começaram a ser registrados em São Marcos. “Antes estava na faixa depois dos 60 anos e agora está havendo uma migração de casos mais severos na faixa dos 40 e 50 anos. É uma impressão que a gente está tendo”, destaca Roberto.

‘O tratamento precoce que tanto se fala na internet, no whatsapp, é muito questionável’

De acordo com o médico, o tratamento precoce da doença é questionável e não é preconizado pela Sociedade Brasileira de Infectologia. “Não existe indicação de tratamento precoce nem no sistema de saúde inglês. O que existe é a observação, o cuidado precoce dos pacientes, o controle da oxigenação e dos sintomas das pessoas. Se houver uma piora do paciente, aí sim se usa medicações que são adequadas, mas o tratamento precoce que tanto se fala na internet, no whatsapp, é muito questionável”, afirma Roberto Pessini.

Conforme acrescenta, não há nenhuma nova medicação indicada para o tratamento da covid-19. “Estamos usando as mesmas medicações que se usavam no ano passado. O que muda são os conceitos de uso da medicação, porque surgiu diversos trabalhos dizendo que certas medicações não tem a eficácia que se imaginava. Então não tem porque se usar uma medicação que não tem indicação”, ressalta Pessini.