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    Um observador dos céus de São Marcos

    Publicitário são-marquense, Petrônio Fachin, 29 anos, fez registro impressionante de descargas elétricas que tocaram o solo no último dia 11 de julho. Agora, ele aguarda a passagem do cometa Neowise na tentativa de um novo registro

    4 anos atrás

    Petrônio Fachin, 29, cultiva a admiração e curiosidade pelo céu desde criança (foto: Petrônio Fachin)

Após o temporal na noite do dia 11 de julho, uma foto surpreendente, e um tanto assustadora, percorreu as redes sociais. O registro feito pelo são-marquense Petrônio Fachin, de 29 anos, mostra com nitidez o momento em que dois raios atingem ao mesmo tempo o solo em São Marcos, mais especificamente no bairro Santo Antônio. A fotografia foi feita em um intervalo de tempo de 13 segundos, às 23h43 do dia 11. “Fiz com uma câmera semiprofissional, mas os registros que eu fiz poderiam ser feitos com qualquer câmera que tenha recurso para fazer fotos noturnas em que se deixa o obturador aberto por mais tempo. Essa foi uma exposição de 13 segundos de captura da luz e captou esses dois raios nos 13 segundos”, explica Petrônio que, na verdade, atua como publicitário e tem apenas como hobby a astrofotografia, uma das áreas da fotografia voltada para captura de imagens de corpos celestes e do céu noturno.

Registro feito por Petrônio Fachin na noite de 11 de julho repercutiu nas redes sociais (foto: Petrônio Fachin)
Registro feito por Petrônio na noite de 11 de julho repercutiu nas redes sociais (foto: Petrônio Fachin)

Na noite de 11 de julho, em que uma tempestade de raios atingiu o céu de São Marcos, Petrônio se colocou a postos na janela de casa e fez uma série de fotografias. Para capturar o momento específico foram necessárias algumas tentativas. “Fiz várias fotos naquela noite. Fui para uma janela de casa e vi que os raios estavam em um lugar bem fácil de eu ver, tenho costume de ir nesse lugar da minha casa pra observar. Foi um pouco da sorte. Fiz umas 40 fotos nessa noite e deu a sorte de que em uma delas, durante os 13 segundos que estava capturando, caiu esses dois raios. Um dos raios caiu a uns 200m da minha casa. Várias outras fotos que eu bati, passaram os 13 segundos e não pegou nada”, relata, destacando que, entre os profissionais que se dedicam a este tipo de fotografia, o registro pode parecer comum. “Quem gosta de fotografia acha normal fazer fotos em exposição mais alta. Para quem faz isso com mais frequência é mais comum, porque sabem achar o lugar certo, mas aqui em São Marcos acho que foi incomum”, salienta.

Petrônio fotografou momento específico em que avião passou em frente à lua: ‘foi sorte também’

Em 2018, Petrônio conseguiu capturar pelas lentes trajetória de avião em frente à lua (foto: Petrônio Fachin)
Em 2018, Petrônio conseguiu capturar a trajetória de avião em frente à lua (foto: Petrônio Fachin)

O são-marquense Petrônio Fachin se dedica a fotografar o céu em seus diferentes aspectos há cerca de 10 anos. Ele garante que o processo é simples, basta ser um observador e ter um pouco de sorte. Entre suas aventuras e descobertas nas fotografias noturnas, ele destaca o episódio em que capturou a cena de um avião passando exatamente em frente à lua. “Outra vez teve uma coincidência em que eu estava observando a lua em 2018, era o fenômeno da super lua, quando a lua está mais próxima da Terra. Eu estava fazendo fotos comuns e me chamou atenção que estavam passando aviões e um deles passou bem na frente da lua e eu consegui apertar o botão bem na hora”, relata, afirmando que teria sido apenas mais um momento de sorte. “Foi sorte também, porque eu estava na hora certa lá. É só ficar um tempo observando que às vezes acontecem essas coisas”, garante.

Petrônio informa também que não é necessário um equipamento profissional para fazer esse tipo de registro do céu noturno. Fotógrafos profissionais, no entanto, fazem fotos mais detalhadas e aproximadas. “Para fotografar a lua precisa ter uma máquina com zoom grande, se não fica só o pontinho branco. Para os raios precisa de uma câmera que tem a configuração manual, mas hoje até alguns celulares já têm essas funções, não precisa um equipamento tão profissional”, informa. O equipamento que utiliza, inclusive para o registro dos raios, é uma Canon SL2, fazendo uso das lentes 50mm ou 18-55mm. Além das fotos noturnas, Petrônio também produz imagens aéreas, utilizando um drone.

Vista aérea de São Marcos por Petrônio Fachin
Vista aérea de São Marcos por Petrônio Fachin

 ‘Todo mundo que quiser observar o céu e fazer fotos consegue’

Mesmo que as imagens surpreendam pela nitidez e beleza dos fenômenos, o publicitário afirma que suas fotos são comuns e qualquer pessoa que se dedique a observar o céu também pode obter bons registros. “As fotos que eu faço são bem comuns. Todo mundo que quiser observar o céu e fazer fotos consegue, não precisa um equipamento específico para isso, é só observar”, incentiva. Ele informa, inclusive, que a localização e geografia de São Marcos favorece a observação do céu noturno. “A gente está em um local privilegiado, porque, como é uma cidade pequena estamos sempre pertinho de um lugar mais afastado para conseguir ver estrelas. Quem mora em cidades maiores olha para o céu e nem consegue ver as estrelas direito porque tem muita poluição luminosa”, observa.

Petrônio relata que maior parte de seus registros são feitos de sua própria casa, mas algumas vezes é necessário se afastar um pouco para conseguir locais mais favoráveis para visualização. “Tem grupos que as pessoas combinam de passar um ou dois dias no mato para observar o céu. Eu pretendo começar a fazer mais, ir no campo mais afastado da cidade, que tem uma visão noturna melhor, não tem poluição luminosa, dá para fazer algumas fotos que pegam as galáxias”, observa, destacando que não existe o momento certo para fazer uma fotografia. O segredo é observar – com um pouco de paciência. “Normalmente vejo o espaço quando me dá vontade, ou quando vejo que o céu está bonito, ou num temporal. Quando é uma foto que vou fazer fora casa, monto o tripé, fico lá 1h, 30 minutos, observando e fazendo fotos”, conta.

‘É uma coisa que traz uma paz, independente da bagunça que é o nosso dia a dia’

Fotos noturnas de longa exposição são capazes de capturar estrelas que formam a galáxia (foto: Petrônio Fachin)
Fotos noturnas de longa exposição são capazes de capturar estrelas que formam a galáxia (foto: Petrônio Fachin)

O são-marquense relata que a fotografia também é uma forma de registrar fenômenos e aspectos do céu que, a olho nu, são mais difíceis de serem visualizados. “Tem muitas coisas que não conseguimos enxergar e com a câmera conseguimos visualizar melhor, então é legal registrar para ver depois, analisar”, relata, destacando, ainda, o sentimento que esse tipo de imagem lhe proporciona. “Quando eu faço uma foto é como se eu estivesse vendo com meus próprios olhos aquilo, às vezes tem imagens da galáxia muito mais legais, mas quando eu faço uma e eu vejo a foto que bati, que mostra uma nebulosa, que eu vejo qual é aquela estrela que eu registrei, me causa uma sensação boa de estar vendo aquilo e explorando. Toda essa bagunça que está a nossa vida, confusão política também, isso é uma coisa que traz uma paz, olhar para a natureza, independente da bagunça que é o nosso dia a dia”, comenta.

Curso online de astronomia auxilia na compreensão dos fenômenos

Petrônio Fachin relatou ao L’Attualità que observar a natureza é algo que aprecia desde criança e sempre analisou o céu com curiosidade. Agora, a astrofotografia o motivou a fazer um curso online sobre astronomia, chamado Big Bang – Astronomia para Leigos e Apressados, para aprofundar um pouco seus conhecimentos. “Não é ambição profissional. Estou fazendo um curso do Sérgio Sacani, ele faz vídeos todos os dias explicando sobre o assunto, é o cara que mais me inspira a conhecer esse tipo de coisa”, detalha. Mesmo sem pretensões profissionais, ele segue buscando o aperfeiçoamento. “Ainda faço isso como um hobby, mas tenho intenção de comprar um telescópio comum, mas para poder observar planetas e outras coisas”, destaca.

Petrônio: 'olhar para o universo e entender ele' (foto: Petrônio Fachin)
Petrônio: ‘olhar para o universo e entender ele’ (foto: Petrônio Fachin)

Além do geofísico brasileiro Sérgio Sacani, Petrônio apresenta outro nome que leva como inspiração e cita uma frase emblemática que o guia neste passatempo e o motiva a compreender o universo. “Tem uma frase do Carl Sagan (astrônomo norte-americano) que eu acho bem legal. ‘Nós somos uma maneira do cosmos conhecer a si mesmo’. Como se um dos nossos objetivos como seres-humanos fosse olhar para o universo e entender ele, já que somos seres inteligentes, conseguimos olhar e entender ele”, salienta.

Cometa Neowise deve passar pelo Brasil nesta sexta-feira (24)

Em entrevista ao L’Attualità, Petrônio Fachin relatou que sua próxima aventura será a tentativa de registrar o cometa Neowise. Ele se aproximou da Terra e vinha sendo registrado no Hemisfério-Norte. Agora, o cometa se aproxima do Brasil durante a semana. A previsão é de que possa ser visto a olho nu entre esta sexta-feira (24) e sábado (25) no sul do Brasil. O são-marquense estará a postos para registar o evento astronômico. “Ele já está perdendo a força, talvez seja difícil ver, mas é interessante porque esse cometa só vai passar de novo daqui 6,5 mil anos. Até os cientistas se surpreenderam de como ele é bonito. Eu quero ir no Monte Calvário para tentar ver, porque vai ser no pôr do sol, ele vai passar mais à direita do sol”, detalha Petrônio.

Vídeo produzido pelo são-marquense reúne imagens aéreas e registros do céu noturno. Confira!