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    SAúDE

    Morador de São Marcos encontra mosquito vetor da dengue

    Mosquito foi encontrado em residência no bairro Francisco Doncatto. Coordenadora da Vigilância em Saúde do município esclarece, entretanto, que há outro mosquito semelhante ao Aedes aegypti: ‘a olho nu não consegue identificar, são muito parecidos’

    4 anos atrás

    Mosquito encontrado por morador tem características do Aedes aegypti (foto: aquivo pessoal)

Desde 2019 São Marcos é considerado um município infestado pelo Aedes aegypti, mosquito transmissor da dengue, zika, chikungunya e febre amarela. Desde então os trabalhos de combate à propagação dos focos foram intensificados, e a colaboração da comunidade também aumentou. Nesta semana, um morador do bairro Francisco Doncatto localizou em sua casa um mosquito incomum e, ao observar as características, pressupôs que poderia ser o Aedes aegypti, acendendo o estado de alerta. “O mosquito vem sendo encontrado por aqui há 15 dias, ele foi visto de noite e no início da manhã. Ninguém desconfiava, pois o mosquito comum aparece bastante por aqui também. Eu que o matei, e acho que se não tivesse olhado ele de perto nem teria percebido. É bem diferente, chama a atenção porque é todo cheio de pintas brancas, inclusive nas pernas”, relata o morador, que encontrou o mosquito.

No entanto, a coordenadora da Vigilância em Saúde, Daiane Alves, alerta para a existência de outro mosquito bastante semelhante, que não é o principal portador do vírus da dengue. “Também pode ser o Aedes albopictus, que é bem parecido. A diferença entre eles é uma leve coloração e um risco a mais na parte da cabeça, que a olho nu não consegue identificar, são muito parecidos”, esclarece, destacando que este também pode transmitir o vírus. “Também pode ser um vetor da dengue, zika e chikungunya, não sendo o principal vetor, mas existem estudos que demonstram o albopictus na cadeia de transmissão”, pondera. Ela ressalta, ainda, que existe grande complexidade nas características dos mosquitos, por isso apenas a análise laboratorial é capaz de detectar um transmissor. “A entomologia é cheia de detalhes, apenas com olhar microscópico para determinar a espécie”, afirma.

Mesmo com o esclarecimento, a população deve seguir atenta, já que é no bairro Francisco Doncatto a maior incidência de focos do mosquito. O morador, que reside na Avenida Tiradentes, relata sua experiência e pede que a comunidade tenha atenção. “Acho que o pessoal aqui da Tapejara (Francisco Doncatto) tem que prestar atenção nos mosquitos. Ele tem esse hábito de chegar quando o sol está baixo, uma medida que adotei aqui faz algum tempo é fechar os vidros antes de anoitecer”, recomenda o morador. A população deve encaminhar os focos suspeitos à Vigilância em Saúde ou fazer denúncias através do telefone 3291 6428.

Maior número de focos está concentrado no bairro Francisco Doncatto (foto: divulgação Vigilância em Saúde)
Maior número de focos está concentrado no bairro Francisco Doncatto. Pontos são focos de 2019; pontos azuis, focos de 2020; e pontos amarelos são os casos importados (foto: divulgação Vigilância em Saúde)

Último foco positivo foi em 3 de abril

São Marcos nunca havia sido considerado um município infestado pelo mosquito e retornará à condição de não-infestado somente se ficar por 12 meses consecutivos sem encontrar larvas do Aedes aegypti. O último resultado positivo de foco do Aedes foi recebido no dia 3 de abril. A última análise foi em 6 de maio, e teve resultado negativo para Aedes. No momento não há focos em análise. É importante ressaltar que são considerados focos tanto larvas quanto mosquitos.

Desde que São Marcos foi decretado um município infestado, em fevereiro de 2019, a Vigilância em Saúde já registrou 54 focos, sendo 39 em 2019 (maioria no bairro Francisco Doncatto). Em 2020 foram 15 focos (9 no Francisco Doncatto e 6 no Centro). Daiane Alves informa que neste ano foram vistoriados 3.990 residências e estabelecimentos e detalha as atividades realizadas pelos agentes de endemia. “Nossas principais atividades são, diariamente, o Levantamento de Índice (LI), mais levantamento com larvicida em locais onde não conseguimos eliminar o criadouro. Isso são visitas diárias dos agentes. Temos inspeção em prédios públicos semanalmente. Temos programa quinzenal de visita aos 27 pontos estratégicos. Verificamos as denúncias, realizamos 74 visitas a partir de denúncias esse ano e, destas, tivemos três que encontramos foco positivo para Aedes”, cita.

Trabalhos dos agentes de endemia continuam durante pandemia do coronavírus (foto: divulgação prefeitura)
Trabalhos dos agentes de endemia continuam durante pandemia do coronavírus (foto: divulgação prefeitura)

Daiane informa que, a partir do decreto de pandemia do Covid-19, algumas atividades sofreram alteração, mas seguem acontecendo. “Com o coronavírus, procuramos não entrar em residências com moradores com mais de 60 anos, fazemos a vistoria só por fora. Sentimos bastante o distanciamento social agora, as conversas respeitam os 2 metros de distância, nossos agentes usam máscara cirúrgica”, detalha. Ela reforça que, quando há registro de focos, é feito monitoramento no raio de 150 metros do local onde foi encontrado. A tendência é que o número de focos diminua durante o inverno.

 São Marcos não tem casos de transmissão local de dengue: ‘o vírus está circulando muito próximo de nós’

São Marcos ainda não tem casos autóctones de dengue, ou seja, transmissão local da doença. Os únicos dois casos registrados neste ano, em janeiro e fevereiro, se tratam de pessoas que viajaram e contraíram a doença fora de São Marcos. No entanto, o município vizinho, Caxias do Sul, registrou o primeiro caso de dengue autóctone nesta terça-feira (12), o que levanta o alerta na região. Daiane Alves destaca que a situação segue dentro da normalidade em São Marcos, em relação a 2019, mas que até o final do ano o município poderá ter casos da doença. “Se não for no final do ano a circulação do vírus do município, no ano que vem podemos começar ter essa introdução de casos de dengue autóctone, porque o mosquito já temos. Só falta o mosquito picar alguém com dengue e começar picar outras pessoas na mesma área”, assinala.

Caxias do Sul registrou primeiro caso de dengue autóctone nesta terça-feira (12)

Ao ser questionada pelo L’Attualità sobre uma possível subnotificação de casos da doença no município, Daiane faz um alerta. “A princípio não tem subnotificação. O que pedimos é para as pessoas prestarem atenção aos sintomas de dengue, que são muitos parecidos com os sintomas do coronavírus: febre, dor no corpo. Então reforçamos para que as pessoas suspeitem de dengue, ainda mais com a confirmação do caso em Caxias, porque o vírus está circulando muito próximo de nós”, ressalta a coordenadora da Vigilância em Saúde de São Marcos. Ela reforça que o apoio da comunidade no combate ao mosquito é de grande importância para o momento. “A dengue depende muito da população, mais do que nossas ações públicas, porque cada um pode eliminar o foco em suas residências, assim esses números não vão aumentar e não vamos precisar nos preocupar com uma epidemia de dengue no nosso município”, pontua.

São Marcos terá laboratório próprio para análise larval

Daiane Alves informa que São Marcos deverá ter, até 2021, um laboratório próprio para análise de larvas e mosquitos. A iniciativa se deve à redução de análises permitidas pelo Estado, que são enviadas para laboratório de Caxias do Sul. “Com redução de custos do Estado, eles reduziram a forma como fazíamos pesquisa larvária. Até o ano passado podíamos mandar todas as larvas que a gente encontrava. Este ano o Estado disse que só podemos enviar as larvas encontradas em denúncias ou pontos estratégicos. As larvas que encontramos nos levantamentos diários não podemos levar para laboratório”, relata.

Esta determinação gerou preocupação à Vigilância em Saúde, já que grande parte dos focos são encontrados justamente nas vistorias diárias. Assim, se tornou necessário que São Marcos possuísse o próprio laboratório de análise. “Solicitamos para o Estado que pudéssemos montar um laboratório de entomologia aqui na Secretaria de Saúde para identificar o Aedes”, informa Daiane Alves, destacando que a Secretaria de Saúde possui todos os materiais necessários e, após a pandemia, haverá capacitação de um profissional responsável. “Vamos montar o laboratório para conseguir identificar as larvas aqui mesmo no município, e não precisar mandar para Caxias para fazer a identificação. Eu vou passar pela capacitação e a partir disso já é possível analisar se é o Aedes ou não”, antecipa Daiane.