-
AGRICULTURA
Valor da uva para safra 2023 é incógnita
Tabela alternativa para pagamento do quilo da uva propõe valor de R$ 1,40/kg, frente a valor de R$ 1,58/kg definido pelo governo federal
2 anos atrás
No último dia 2 de dezembro de 2022, a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) divulgou o preço mínimo do quilo da uva que deveria ser praticado nos Estados das regiões Sul, Sudeste e Nordeste, de 1° de janeiro a 31 de dezembro de 2023: R$ 1,58. A quantia, que consta no Diário Oficial da União, representa um reajuste de 20,61% em relação ao ano de 2022, quando ficou determinada a cobrança de, pelo menos, R$ 1,31 por quilo.
A Conab, responsável por propor o valor ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, destaca que “a elevação acompanha o aumento nos custos de produção da uva industrial, influenciado principalmente pelos investimentos na cultura, como mão de obra, fertilizantes, agrotóxicos e embalagens”. Para a Conab, o valor de R$ 1,58 ao quilo “possibilita ao viticultor arcar ao menos com as despesas em casos de crises de preços de mercado, contribuindo assim para que seja assegurada uma remuneração mínima aos produtores”.
Associação Gaúcha de Vinicultores propõe valor de R$ 1,40/kg de uva
Contudo, no último dia 18 de janeiro, uma tabela alternativa para o pagamento do quilo da uva, assinada pela Uvibra (União Brasileira de Vitivinicultura), através do presidente Daniel Panizzi, chegou ao conhecimento de agricultores. Ao invés do valor de R$ 1,58/kg para a variedade Isabel com 15 graus, estipulado pelo governo federal, no documento consta R$ 1,40/kg, valor definido por consenso capitaneado pela Agavi (Associação Gaúcha de Vinicultores), que representa 49 empresas da região.
Os motivos elencados pelo ofício são: a queda de comercialização, altos estoques de passagem, possibilidade de recessão, inflação, entre outros. “É uma circular informativa que a Uvibra não teve interferência, foi definida pelos associados da Agavi, onde se concentra praticamente 100% do volume de uvas de mesa”, comentou Daniel Panizzi. Já Darci Dani, executivo da Agavi, destacou que a decisão dos associados está “coerente com a oferta que tinha sido feita”. “A nossa turma acha que não consegue fazer caber R$ 1,58/Kg nos custos e por isso a tabela alternativa”, assinalou Darci Dani.
‘Temos que olhar o lado do agricultor, porque o custo de produção também subiu’
Entrevistada pela reportagem do L’Attualità, a presidente do Sindicato dos Trabalhadores Agricultores Familiares (STAF) de São Marcos, Sandra Meneguzzo, comenta sobre a indefinição do valor da uva que será praticado na safra 2023. “A tabela do governo as vinícolas não têm uma obrigatoriedade de seguir, mas todos os anos nunca houve problema, elas sempre seguiram. Só que nesse ano saiu essa tabela secundária. Eles estão achando que a matéria prima, que é a uva, teve um aumento muito grande, de 20,6% para eles. É bastante, eu também vejo o lado deles, mas nós também temos que olhar o lado do agricultor, porque o custo de produção também subiu”, observa Sandra.
‘Acho que seria uma falta de respeito com o agricultor pagar menos que a tabela do governo’
Conforme informa, a Comissão Interestadual da Uva fará uma publicação em nome dos presidentes dos sindicatos e agricultores solicitando que as vinícolas sigam a tabela do governo para o pagamento do quilo da uva. “Nós gostaríamos, como presidentes e agricultores, que as vinícolas respeitassem a tabela do governo, porque foi uma conquista do agricultor. Houve um estudo realizado ali nos meses de julho e agosto e nós enviamos para o governo o custo de produção que o agricultor tem para produzir um quilo de uva. Esse aumento de 20,6% foi uma visão do governo de tudo que a gente apresentou sobre custo de produção. Então nós estamos fazendo a coisa certa. Acho que seria uma falta de respeito com o agricultor pagar menos que a tabela do governo”, assinala Sandra Meneguzzo.
R$ 1,58/Kg de uva: ‘para a vinícola seria bem viável pagar esse valor’
A presidente do STAF opina que o valor de R$ 1,58/Kg para a uva é “bom para o agricultor e para a vinícola”. “Acredito que para a vinícola seria bem viável pagar esse valor. Porque 2023 vai ser um ano de pouca uva, e vai depender do grau da uva também. Vamos ver como vai trabalhar o tempo agora, se começa a vir muita chuva, o grau vai diminuir, daí o agricultor também vai baixar o preço. A tabela do governo também mostra os valores para uva de 14 graus, 13 graus”, aponta Sandra.
‘Pode ser que mesmo com essa tabela secundária, muitas empresas optem em trabalhar certo pela tabela do governo’
Conforme salienta, entre o final deste mês de janeiro e início do mês de fevereiro é que os agricultores saberão qual valor da uva será praticado em sua comercialização. “Pode ser que mesmo com essa tabela secundária, muitas empresas optem em trabalhar certo pela tabela do governo. Eu não estou ainda ciente de que eles vão trabalhar com essa tabela que eles colocaram. Então é bom esperarmos a entrega da uva e ver como é que vão sair as primeiras notas, como que vai se comportar. Sempre há também uma negociação entre o agricultor e a empresa, então isso tende a mudar”, ressalta Sandra Meneguzzo.
Início da colheita da safra da uva 2023 atrasou em virtude da estiagem
Presidente do Sindicato dos Trabalhadores Agricultores Familiares (STAF) de São Marcos desde 2018 e já cumprindo o seu segundo mandato (2023-2026), Sandra Meneguzzo revela que o início da colheita da safra da uva 2023 atrasou em cerca de duas semanas neste mês de janeiro, em virtude da estiagem. “A colheita ainda está iniciando, essa semana acho que a Isabel precoce já está indo para a vinícola. A questão da estiagem prejudicou bastante o início da colheita, que geralmente começa até o dia 15 de janeiro, mas esse ano atrasou duas semanas. A uva Bordô está bem atrasada. Algumas regiões já estão entregando para São Marcos, e aqui no município alguns agricultores já estão chegando às vinícolas com alguma carga de uva”, informa Sandra.
‘50% de perda na uva Bordô em virtude da geada’
Conforme revela, os agricultores de São Marcos tiveram cerca de 50% de perda da produção da uva Bordô, causada pela “geada em época errada”, nos meses de setembro, outubro e novembro de 2022. “Quando tem geada depois que a parreira brotou, já é destruição. Cada broto já perde alguma fatia da produção. Então depois de setembro a geada não é bem-vinda. E como a Bordô é podada mais antecipadamente, foi a variedade que mais sofreu. Teve comunidade em que perderam 30% e outras que já perderam 70%. Então chegamos a uma média de 50% de perda na uva Bordô esse ano”, comenta Sandra.
Conforme acrescenta, a produção da variedade de uva Isabel sofreu perdas menores. “A Isabel teve algumas perdas de 20%, mas também teve agricultor que não perdeu nada. Isso porque a Isabel é uma uva mais tardia. Tem também a uva Niágara, que teve uma perda bem razoável, porque é uma uva que vem junto com a Bordô. Mas na questão da qualidade, todas elas estão com uma qualidade bem boa”, detalha Sandra Meneguzzo.
Emater estima colheita de 19 a 21 milhões de quilos de uva em São Marcos
De acordo com informações da Emater, são cerca de 1.250 hectares de uva cultivados no município, com média de 23 a 24 mil quilos por hectare e uma produção normal estimada em torno de 28 a 30 milhões de quilos de uva. Contudo, há estimativa de 30% a 50% de perdas dependendo a variedade de uva, e deverão ser colhidos entre 19 a 21 milhões de quilos.