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    Cenários macroeconômicos mundial e do Brasil para 2023 foram temas de palestra do economista Caio Megale em São Marcos

    Na última quinta-feira (29), CIC São Marcos promoveu palestra com o economista-chefe da XP Investimentos Caio Megale, que já atuou como secretário de Desenvolvimento da Indústria e Comércio e diretor de Programas no Ministério da Economia entre 2019 e 2020

    2 anos atrás

Na última quinta-feira, dia 29 de setembro, a CIC São Marcos promoveu palestra com o conceituado economista Caio Megale, a partir das 19h30, no Salão de Festas da AMSM (Associação dos Motoristas São-Marquenses). O tema da palestra foi “O Cenário Macroeconômico 2022/2023 e as eleições 2022”.

Conheça o histórico do economista Caio Megale

Economista-Chefe da XP Investimentos, Caio Megale foi secretário de Desenvolvimento da Indústria e Comércio e diretor de Programas no Ministério da Economia entre 2019 e 2020. Antes, foi secretário municipal da Fazenda de São Paulo, de janeiro de 2017 a dezembro de 2018. No mesmo período, foi vice-presidente da Associação Brasileira de Secretários de Finanças das Capitais (ABRASF). Entre 2011 e 2016, foi associado do Itaú Unibanco e um dos responsáveis pela equipe de economistas do banco.

Em 2005, participou da fundação da Mauá Investimentos, da qual foi sócio e economista chefe até 2010. Foi professor de Economia na Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio) e no Instituto Brasileiro de Mercado de Capitais (IBMEC SP). Tem artigos publicados nos principais jornais do país. Graduado em Economia pela Universidade de São Paulo (USP), com mestrado na PUC-Rio. Sua dissertação de mestrado venceu o Prêmio BNDES de Economia em 2005.

Palestra com Caio Megale: ‘um evento pensado para os brasileiros preocupados com o futuro da pátria’

Palestra com Caio Megale promovida pela CIC São Marcos teve grande presença de público, com participação de 160 empresários

A palestra de Caio Megale em São Marcos na última quinta-feira (29) contou com a presença do vice-prefeito de São Marcos, Valmir Scopel de Oliveira (Marronzinho); o sócio e assessor de Investimentos da unidade Messem Caxias do Sul, Diego Giovanardi D’Arrigo; vice-presidentes e diretores da CIC São Marcos, associados, imprensa e convidados. 160 empresários do município assistiram à palestra do economista.

Em seu discurso de boas-vindas, o presidente da CIC São Marcos, Dorival Perozzo, destacou que o evento foi “especialmente pensado e projetado para um público seleto de  pessoas com preocupações que vão além de sua situação socioeconômica, mas também como brasileiros preocupados com o futuro da pátria”. “Esta é a CIC, com um novo perfil, que além de estar mais próxima dos seus associados, procura estar presente e ser útil a comunidade com seus anseios e necessidades. Acreditamos que esse deve ser o perfil de uma entidade representativa”, assinalou Dorival.

‘O dólar em R$ 5,40 está refletindo a ansiedade que todos nós estamos aqui com a chegada das eleições’

Durante a sua palestra, o economista Caio Megale observou que o Brasil tem “performado graficamente bem” no cenário mundial de crise, alta de juros e inflação e o “real tendo se mantido relativamente estável quanto o dólar, no momento em que o dólar varreu o mundo, foi uma prova de resistência”. “O dólar em R$ 5,40 está refletindo a ansiedade que todos nós estamos aqui com a chegada das eleições. Vamos ver como vai ser a montagem da equipe econômica, se fica o ministro Paulo Guedes, se monta uma nova equipe, se traz gente nova, se o Lula vence a eleição, como vai ser a equipe do Lula”, comentou Megale.

Economia brasileira: ‘tem sido um ano de arrancada de crescimento, trimestre após trimestre’

Conforme ressaltou, a principal surpresa deste ano na economia brasileira foi o crescimento da atividade econômica, haja visto que as projeções iniciais do setor econômico para 2022 eram de crescimento de 0 a 1%, em virtude da alta de taxa de juros no Brasil e no mundo, guerra entre Rússia e Ucrânia e eleições. “No período eleitoral normalmente a turma pisa um pouco no freio, então pensamos ‘não vai ser um ano de crescimento forte’. Mas tem sido um ano de arrancada de crescimento, trimestre após trimestre. Hoje as projeções estão perto de 3% e ainda pode surpreender mais. Hoje estamos indo para uma taxa de desemprego perto de 8%, que é 2 a 3% abaixo do que tínhamos no período pré-pandemia. Então temos uma mudança estrutural do emprego na economia brasileira. E por que esse desempenho está tão forte? Tem diversas razões, algumas circunstanciais, conjunturais, e outras mais estruturais”, avaliou Caio Megale.

‘Acho que nós subestimamos o potencial que foi a reabertura da economia, com as pessoas voltando para as ruas’

Conforme salientou o economista Caio Megale durante a palestra promovida pela CIC São Marcos no último dia 29 de setembro, “o Brasil saiu completamente da pandemia e o governo brasileiro voltou a ficar absolutamente normal”. “Acho que nós subestimamos o potencial que foi a reabertura da economia, com as pessoas voltando para as ruas, consumindo o que não consumiam durante o período da pandemia, realizando eventos como esse, que ficaram represados durante 2 anos, além de viagens, restaurantes. Tivemos a alta das commodities, que nos beneficia, traz renda para o Brasil e não deve virar tão cedo. E o governo fez transferências importantes à população, como o auxílio de R$ 600 e todas as políticas de estímulo deste ano, que também estão sustentando a economia”, observou Caio Megale.

‘Estamos num ciclo de retomada da economia que tem tudo para continuar, porque o motor da economia brasileira está reformado e está respondendo’

Conforme acrescentou Caio Megale, também há fatores estruturais fazendo a diferença para o crescimento da atividade econômica brasileira, como as diversas reformas realizadas no Brasil desde 2016. “A reforma trabalhista; a reforma financeira que o banco central produziu, trazendo muito mais competitividade; a reforma da previdência; a aceleração das concessões; a melhora do ambiente de negócios; os novos marcos legais do saneamento, da cabotagem e da ferrovia. Tudo isso impulsionou um investimento que tem uma durabilidade longa, e que depois gera crescimento econômico pra frente. Então acho que nós estamos num ciclo de retomada da economia que tem tudo para continuar, porque o motor da economia brasileira está reformado e está respondendo”, assinalou o economista Caio Megale.

‘A pandemia foi um momento de crise, de apagão de atividade econômica, ninguém consumia nada e ninguém produzia nada’

O economista Caio Megale também abordou em sua palestra os impactos da pandemia da covid-19 na economia mundial, destacando a evolução dos preços de commodities (mercadorias, principalmente de origem primária) nos últimos 3 anos. “As commodities são os recursos de produção, matérias-primas, grãos, petróleo, metais. A evolução dos custos das commodities ao longo dos últimos 3 anos nos ajuda muito a entender como a pandemia mexeu com a economia mundial. A pandemia foi um momento de crise, de apagão de atividade econômica, ninguém consumia nada e ninguém produzia nada. Os aeroportos fechados, estradas fechadas. Então nós tivemos uma queda muito forte no PIB mundial e nos custos de produção. O primeiro impacto da pandemia no mundo econômico foi defracionário e recessivo. A pandemia jogou o PIB e a inflação para baixo”, apontou o economista.

Investimento de 10 trilhões de dólares na economia global foi solução em 2020 e problema em 2021

Conforme observou Megale, ao mesmo tempo em que “a principal preocupação do mundo era com a doença (covid-19), nos ministérios da Economia ao redor do mundo a preocupação era de que os frutos do pagamento da economia parassem”. Conforme apontou o palestrante, se durante o período crítico da pandemia os proprietários de empresas deixassem de pagar impostos, funcionários e fornecedores, “o apagão poderia ter sido muito mais sério”. Conforme apontou Caio Megale, a resposta de todos os governos à situação crítica trazida pela pandemia foi fazer a economia girar, com o investimento de 10 trilhões de dólares em medidas fiscais, que, ao longo de 2020 e início de 2021, resultaram em “um processo de recuperação e otimismo, do ponto de vista econômico”.

Contudo, conforme ressaltou o economista, mesmo com a recuperação dos preços de commodities e sem risco da interrupção dos frutos de pagamento da economia, os governos novamente investiram 10 trilhões de dólares na economia global em 2021 e o problema deixou de ser o crescimento econômico e sim a inflação. “A guerra entre Rússia e Ucrânia só intensificou esse processo de inflação. O petróleo, que custava 90 dólares o barril, foi a 130 dólares. Os grãos subiram de 30 a 50%. E a inflação, que era um problema sério no final de 2021, virou um ‘problemaço’ no início de 2022”, destacou Megale.

‘A taxa de juros nos Estados Unidos já está em 3,5% e o banco americano está sinalizando que vai chegar em 4,5% ou 5% no ano que vem’

Segundo revelou o economista, os bancos centrais do mundo acreditavam que 2022 seria um ano de gradual rebalanceamento da economia global, contudo, devido a alta da inflação, se viram “obrigados a pisar no freio fortemente”. “Um exemplo disso é o banco central americano, que sinalizou que no final de 2021 precisava subir juros, mas já estava atrasado. O banco central brasileiro acordou para isso antes e começou a subir juros em março de 2021. Já o americano disse ‘a minha taxa de juros vai estar em 1% no final de 2022 e 1,5% em 2023. A inflação é temporária, etc’. Bom, hoje, em setembro de 2022, a taxa de juros lá nos Estados Unidos já está em 3,5% e o banco americano está sinalizando que vai chegar em 4,5% ou 5% no ano que vem. Mas por que é tão importante a alta de juros nos Estados Unidos? Porque como ela é considerada a taxa de juros mais livre de risco no mundo, ela é usada como base de cálculo para qualquer ativo financeiro”, frisou Caio Megale.

Os reflexos da guerra entre Rússia e Ucrânia se estendem para a economia

Conforme destacou Megale, a alta de juros nos Estados Unidos provocou recessão e queda forte dos mercados, que puderam ser observados no primeiro semestre deste ano, e os reflexos da guerra na Europa se estenderam para a economia, sendo um deles a crise de energia. “Em março, abril desse ano se dizia ‘ah essa guerra vai durar 30 ou 60 dias’. A impressão que se tinha é que ia ser uma invasão e que, rapidamente, a Rússia ia recuar ou a Ucrânia ceder, e acabou. Mas já estamos chegando em outubro e não há nenhum sinal de que a guerra vai acabar. Estamos chegando no inverno europeu e a Europa não tem energia. A Suíça já disse que não pode passar de 19 graus o termostato. Por enquanto está ok, mas quando estiver com 2 metros de neve na porta de casa, vai ser duro”, apontou Megale.

‘O inverno europeu tem potencial de desestabilizar de novo as cadeias de produção globais, dependendo da sua intensidade’

Conforme o economista, a crise de energia na Europa deixa os custos de produção resistentes. “Com a  ressaca, alta de juros e queda de atividade, era para os custos de produção terem caído mais rapidamente. Eles estão caindo, a inflação está caindo, mas vai cair devagar, porque os custos de energia estão sendo segurados pela crise na Europa. E a verdade é que ninguém sabe o que vai acontecer durante o inverno europeu, então a gente tem pela frente um teste de estresse nesse cenário de rebalanceamento da economia global. O inverno europeu tem potencial de desestabilizar de novo as cadeias de produção globais, dependendo da sua intensidade”, alertou Caio Megale.