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    SAúDE

    ‘Temos tudo para ter um surto de dengue em São Marcos’

    Após notificação de 3 casos suspeitos de dengue em São Marcos, que aguardam resultados de exames, Secretaria Municipal da Saúde emitiu comunicado de risco iminente de circulação do vírus no município

    3 anos atrás

    Vigilãncia Ambiental em Saúde realiza vistorias de possíveis focos de dengue em cemitérios de São Marcos

Neste mês de abril, São Marcos registrou 3 casos suspeitos de dengue, notificados nos dias 4, 5 e 7. Os pacientes são homens de 13, 36 e 29 anos, que não apresentam quadro grave de saúde e aguardam os resultados dos exames já encaminhados ao Laboratório Central do Estado (Lacen). Em virtude dos casos, a Secretaria Municipal da Saúde de São Marcos emitiu comunicado de risco iminente da circulação do vírus da dengue no município, com o objetivo de alertar a população e orientar os estabelecimentos de saúde públicos e privados quanto à identificação dos casos e coleta de exames.

Em entrevista ao L’Attualità, a coordenadora da Vigilância Ambiental em Saúde, Daiane Alves, destaca que o alerta de risco também ocorre em virtude do expressivo aumento no número de casos de dengue no Estado. “No mês de março o Estado emitiu um alerta para todo o Rio Grande do Sul sobre o risco iminente da circulação do vírus em várias regiões. As arboviroses derivadas do Aedes aegypti (mosquito transmissor do vírus da dengue) já vinham adentrando o Estado, mas geralmente ficavam mais centralizadas na região de Porto Alegre. Só que neste ano começou a aparecer em regiões mais frias, como a nossa”, assinala Daiane.

5 óbitos por dengue no Rio Grande do Sul em 2022

Conforme dados da Secretaria Estadual da Saúde, entre 9 de março e 3 de abril já ocorreram 5 óbitos por dengue no Rio Grande do Sul. Os pacientes eram moradores dos municípios de Cristal do Sul (mulher de 85 anos), Horizontina (mulher de 70 anos), Jaboticaba (mulher de 73 anos), Igrejinha (homem de 79 anos) e Chapada (mulher de 76 anos). Os óbitos ocorreram entre os dias 19 de março e 3 de abril. No total, já são cerca de 8 mil casos de dengue registrados no Estado desde janeiro, número que já supera as ocorrências de 2021 no mesmo período.

Na região da 5ª Coordenadoria Regional de Saúde, da qual São Marcos faz parte, até o último dia 12 de abril, 94 casos estavam confirmados, sendo 86 desses casos autóctones (contraídos pelo enfermo na zona de sua residência). Na região da Serra, 10 municípios já confirmaram a presença do vírus, são eles: Caxias do Sul, Farroupilha, Guaporé, Nova Bassano, Nova Petrópolis, Carlos Barbosa, Picada Café, São Jorge, Gramado e Garibaldi.

São Marcos é município infestado pelo Aedes aegypti desde 2019: ‘neste ano, só nos primeiros 4 meses, já estamos com 133 imóveis positivos para o Aedes’

Vigilância Ambiental em Saúde intensifica ações de vistorias em possíveis focos de dengue em São Marcos

A coordenadora da Vigilância Ambiental em Saúde salienta que São Marcos permanece com o status de município infestado pelo Aedes aegypti desde 2019. “E a probabilidade disso reverter é muito ínfima. Lá em 2019, durante todo o ano, encontramos 15 imóveis positivos para o Aedes, já em 2020 esse número subiu para 26, em 2021 fomos para 99 imóveis positivos e, neste ano, só nos primeiros 4 meses, já estamos com 133 imóveis positivos. Começou a infestar ali pela região do bairro Francisco Doncatto, beirando a BR 116. E aí a gente vê como o Aedes chega ao município, principalmente pelo ovo do mosquito, que é transportado por caminhões”, aponta Daiane Alves.

‘Não é o mosquito adulto que vem para o município, eles chegam em forma de ovos’

Conforme explica, o mosquito Aedes aegypti faz uma postura de ovos, que se transformam em larvas e posteriormente em mosquitos adultos. “Uma fêmea do Aedes vai liberar os ovos dela nas bordas de recipientes secos, não necessariamente com água. Ela vive cerca de 30 dias e deposita, durante essa vida útil dela, cerca de 2 mil ovos. Cada postura é de 40 ovos. Num instinto de sobrevivência, o mosquito vai fazer isso num raio de 1 km, então ele vai colocando 40 ovos em cada potinho que ele encontrar. E isso também vai ocorrer numa carga de um caminhão, nos carros. Porque esse ovo pode ficar no ambiente seco por um ano e ele só vai eclodir quando esse recipiente receber água e a temperatura adequada para esse ovo virar uma larva. É dessa forma que o Aedes caminha. Então não é o mosquito adulto que vem para o município, eles chegam em forma de ovos”, reforça a coordenadora da Vigilância Ambiental em Saúde.

‘Após picar uma pessoa contaminada, o mosquito vai demorar de 8 a 10 dias para começar a transmitir para outras pessoas’

Daiane Alves explica que a transmissão do vírus da dengue ocorre no período de 8 a 10 dias após o mosquito picar uma pessoa contaminada com uma arbovirose. “Ele vai demorar de 8 a 10 dias para começar a transmitir para outras pessoas. Após esse mosquito contaminado picar uma pessoa, o período de incubação é de 5 a 7 dias. Isso significa que, se eu fui picada hoje, eu posso apresentar o início dos sintomas daqui a 5 dias. Muitas pessoas nos procuram dizendo ‘hoje de manhã eu fui picada por um mosquito, era Aedes, acho que eu estou com dengue’, mas não funciona assim. Também vale lembrar que o Aedes é um mosquito urbano, voa em torno de um metro e meio, então ele vai picar mais a área das pernas e dos braços, por isso é importante o uso de repelente”, destaca Daiane Alves.

Conforme detalha Daiane, dos 49 municípios que integram a 5ª Coordenadoria Regional de Saúde, 33 são infestados pelo mosquito transmissor do vírus da dengue. “E olhando o mapa, você verifica que na verdade há de se pensar quanto a esses outros municípios não infestados. Será que realmente não estão infestados ou só não estão procurando? Porque quem procura, acha”, ressalta Daiane Alves. Ela destaca a importância do alerta do risco iminente de circulação do vírus da dengue em São Marcos. “Estamos fomentando ainda mais as ações de combate e prevenção, porque temos tudo para ter um surto de dengue no município, como já está acontecendo na região”, alerta Daiane Alves.

Principais sintomas da dengue: ‘febre abrupta (que dura de 2 a 7 dias), dor no corpo, dor de cabeça, dor nos olhos e náuseas’

Conforme relata a coordenadora da Vigilância Ambiental em Saúde, após o alerta de risco recebido pelo Estado em março, a Secretaria Municipal da Saúde emitiu o comunicado de risco para o município visando a alertar a rede pública e privada de saúde. “Nesse sentido, os profissionais de saúde começaram a ficar mais atentos e a verificar os sintomas, que são parecidos com qualquer outra virose, incluindo covid-19. E nos casos em que o profissional suspeita que possa ser uma arbovirose, ele socilita exames e foi dessa forma que chegamos aos 3 casos suspeitos”, comenta Daiane Alves. De acordo com ela, os principais sintomas da dengue são: febre abrupta (que dura de 2 a 7 dias), dor no corpo, dor de cabeça, dor nos olhos e náuseas. “Temos bastante queixa de dor nas costas. Alguns pacientes também apresentam vômito, outros dor nas juntas, alguns têm manchas na pele, mas esses não são os sintomas principais”, frisa Daiane Alves.

‘O médico vai tratar a sintomologia, porque essa é uma doença que não tem tratamento’

Conforme explica, a dengue não é uma doença com alta taxa de letalidade, contudo, óbitos podem ocorrer. “Hoje o Estado está com 7.977 casos confirmados de dengue. Desses 7 mil, tivemos 5 óbitos. Então não é uma doença que mata muito, ela não tem uma taxa de letalidade absurda, entretanto vai ocorrer alguns casos. O ideal é que, caso tenha uma febre abrupta que não é normal e alguns desses outros sintomas, procure atendimento, porque atendimento médico precoce é sempre o melhor. Aí vai ser avaliado pelo médico e ele vai tratar a sintomologia, porque essa é uma doença que não tem tratamento. Ele vai orientar a hidratação, descanso, boa alimentação, e acredito que seja isso que vai evitar casos piores”, assinala Daiane Alves.

‘Se cada morador destinar 10 minutos da sua semana para dar uma olhada no seu quintal, já vai ajudar muito a diminuírmos a situação de infestação no município’

Daiane Alves também comenta sobre as medidas de prevenção a proliferação do mosquito transmissor do vírus da dengue que podem ser tomadas por todos os são-marquenses. “Se cada morador destinar 10 minutos da sua semana para dar uma olhada no seu quintal e retirar tudo que possa juntar uma bolha de água sequer, já vai ajudar muito a diminuírmos a situação de infestação no município. Porque se a gente não tem o mosquito, automaticamente não temos a doença”, ressalta Daiane Alves.

‘O uso de repelente é muito importante, principalmente nas gestantes’

A coordenadora da Vigilância Ambiental em Saúde reforça a importância do uso do repelente como prevenção à contaminação pelo vírus da dengue. “O uso de repelente é muito importante, principalmente nas gestantes, porque também temos um caso confirmado de zika no Estado e sabemos as complicações de zika nas gestantes. Quando viajar, também usar repelente, porque nos outros municípios do Estado ou até mesmo fora também está infestado, tem circulação de vírus, então é importante esse cuidado”, assinala Daiane.

90% dos postos de contaminação do mosquito da dengue em São Marcos são em residências: ‘o aedes não é um mosquito que deposita seus ovos em água corrente’

Conforme detalha, o mosquito Aedes aegypti deposita ovos em recipientes artificiais. “O aedes não é um mosquito que deposita seus ovos em água corrente, ele deposita em recipientes de plástico, mais porosos, que conseguem segurar os ovos, já que o ovo dele foi produzido para durar bastante tempo em situação sem água”, comenta Daiane. Conforme revela, 90% dos postos de contaminação do mosquito da dengue em São Marcos são em residências. “A gente sempre pensa que os terrenos baldios vão dar trabalho, mas o pior são as residências. Os tonéis onde armazenam água, por exemplo. Os nossos agentes de endemias passam e orientam para que sejam bem fechados. Orientamos para o uso de pastilha de cloro, desde que tenha bóia. As meninas ajudam as pessoas a fazer uma bóia de cloro com garrafa pet. São coisas que funcionam e são possíveis de fazer. Pode continuar armazenando água da chuva, mas desde que faça isso com cuidado, para não acabar contribuindo com a criação de mosquitos”, ressalta Daiane Alves.

‘Estamos com sérios problemas nos cemitérios, com bromélias, flores, ornamentos de plástico, que acumulam muita água’

Daiane Alves, coordenadora da Vigilância Ambiental em Saúde de São Marcos

Conforme informa a coordenadora da Vigilância Ambiental em Saúde de São Marcos, foi realizada a compra de um aparelho específico para a aplicação de fumacê (composto inseticida) no raio de 150 metros da residência dos 3 casos suspeitos de dengue em São Marcos. “Mas como ainda não veio esse aparelho, estamos em processo de compra, eu consegui com o Estado a semana passada um outro tipo de veneno líquido, para passar em alguns pontos estratégicos em São Marcos. Estamos com sérios problemas nos cemitérios, com bromélias, flores, ornamentos de plástico, que acumulam muita água. Por isso também pedimos a colaboração das pessoas. Levem plantas naturais no cemitério, mas não aquelas que acumulem água, que é o caso das bromélias, em que tivemos muitos casos positivos”, relata Daiane Alves.

Conforme informa, a Secretaria da Saúde também vai intensificar as ações de vistorias nas residências e estabelecimentos de São Marcos. Atualmente a Vigilância Ambiental em Saúde conta com dois agentes de endemia e nos próximos dias fará a contratação de mais dois profissionais. O projeto de lei que autoriza essa contratação emergencial foi aprovado por unanimidade pelos vereadores na sessão ordinária do último dia 11 de abril.