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Ateliê de Juliandra Rogalski atende alunos de todas as idades: ‘Quero criar a cultura da arte em São Marcos’
Em 2021, Ateliê de Artes Juliandra Rogalski fechou o ano atendendo a 120 alunos, oferecendo aulas de desenho para pessoas de 4 até 78 anos
3 anos atrás
Há 5 anos a são-marquense Juliandra Rogalski, 29 anos, estudante de Licenciatura em Artes Visuais pela Universidade de Caxias do Sul (UCS), abriu um ateliê de artes no município, buscando atender ao interesse do público em aprender a desenhar. A demanda foi percebida por ela durante aulas gratuitas que realizou durante 4 meses, no salão do Restaurante Ala Cantina, onde trabalhava.
Localizado na Rua Monsenhor Henrique Compagnoni, número 297, Centro, o Ateliê de Artes Juliandra Rogalski fechou o ano de 2021 atendendo a 120 alunos, com idades que variam de 4 até 78 anos. “O ateliê tem crescido cada vez mais, o que tem me surpreendido. Estamos entrando no sexto ano de ateliê e eu já tenho até procurado pessoas para ajudar, porque não dou mais conta de fazer as coisas sozinhas. Mesmo passando pelo período de pandemia, tenho pais e alunos maravilhosos, que me apoiaram e se mantiveram comigo. A divulgação do ateliê foi sendo feita no ‘boca a boca’ e aí começou um aluno atrás do outro, tanto que hoje temos uma lista de espera e eu acredito que vamos trabalhar o ano todo com horários lotados”, revela a professora.
‘O desenho sempre esteve presente na minha vida’
Filha dos agricultores Pedro e Janilce Rogalski, Juliandra morou com os pais, na Linha Rosita, até os seus 15 anos. “Morava e trabalhava na colônia, aprendi muito lá e isso são coisas que a gente vai carregando ao longo da vida. Vim para a cidade e, antes de ser professora de desenho, tentei outras áreas. Trabalhei em empresa, em chão de fábrica, com gestão de qualidade e em restaurante. Porém, o desenho sempre esteve presente na minha vida, era um hobby, desde criança. O primeiro elogio que eu recebi foi de um desenho que eu fiz na primeira série”, recorda Juliandra, salientando que, com o tempo, sentiu a necessidade de cursar uma faculdade. “Eu fui percebendo que eu queria muito fazer uma faculdade de uma coisa que eu gostasse muito. Fiz cursos de gestão de qualidade, mas sentia que faltava alguma coisa. Então, quando escolhi a faculdade, optei pela área da educação dentro daquilo que eu tinha uma habilidade, que é desenhar, e, num primeiro contexto, pensei em dar aulas em escola, porque é uma forma de ajudar mais as pessoas”, relata Juliandra Rogalski.
‘Desenhar é uma habilidade que você pode desenvolver como qualquer outra’
Conforme detalha, quando trabalhava no Restaurante Ala Cantina, surgiu a ideia de dar aulas gratuitas de desenho. “Pedi se eu poderia usar o salão ao lado do restaurante, no período em que eu não estava trabalhando, e deixaram eu usar o espaço. Aí comecei com essas aulas voluntárias, que duraram 4 meses, e percebi que havia um interesse de um público de todas as idades em cima do desenho, até porque muitas pessoas acreditam que se você ‘não nasce sabendo desenhar’, se não desenvolve essa habilidade nos primeiros anos de vida, é porque você não é bom nisso. Mas essa é uma habilidade que você pode desenvolver como qualquer outra. Algumas pessoas têm mais dificuldade, outras menos, mas todas podem desenhar”, assinala a professora de desenho.
‘Quando você faz algo que você ama, faz toda a diferença, traz uma qualidade de vida’
Juliandra Rogalski ressalta que descobriu, na prática, que também possui a habilidade de ensinar. “Percebi que, além de levar jeito para desenhar, eu levava jeito para ensinar. Em primeiro lugar você tem que gostar de dar aula e tem que ter muita paciência. Tem que pensar o que você está explicando, traduzir o que o aluno está entendendo, para depois levar essa informação para você e novamente para o aluno. Não é tão fácil quanto parece”, observa Juliandra. Conforme lembra, em maio de 2017 abriu oficialmente o seu Ateliê de Artes. “Nas primeiras aulas que eu comecei a cobrar, continuei usando o salão do restaurante por um ano, mas depois aluguei um espaço. Aí resolvi sair do restaurante e focar só no ateliê, porque percebi que começou a dar certo e que podia ser a minha renda. Que eu conseguiria me manter e fazer o que eu amo fazer. Quando você faz algo que você ama, faz toda a diferença. E eu desejaria isso para qualquer pessoa, ao longo da vida, que ela pudesse encontrar aquilo que ela ama fazer, ou que não desistisse no meio do caminho. Isso traz uma qualidade de vida, um estado espiritual muito gostoso de viver, e é algo que eu desejo para as pessoas, que se encontrem nessa jornada”, destaca Juliandra.
Atividade extracurricular ligada ao desempenho na escola: ‘quando um aluno está atrasado ou com algumas falhas nos estudos, essas falhas se apresentam também no desenho’
O Ateliê de Artes Juliandra Rogalski atende nos turnos da manhã, tarde e noite, oferecendo períodos de aula que variam de uma até duas horas. “Para crianças pequenas, de 4 a 7 anos, uma duração de aula de 2 horas é bastante tempo. Então temos aulas de 1 hora, 1 hora e meia, 2 horas, de manhã, de tarde e à noite, justamente para encaixar na rotina”, explica Juliandra.
Conforme detalha, no ateliê é disponibilizado todo tipo de material para os alunos conhecerem e experimentarem, como lápis de cor seco e aquarelável, toda a linha de lápis preto e branco, aquarela em pastilha, aquarela em tinta, tinta a óleo, tinta acrílica e pintura de quadros. “Temos todo o material de apoio para o aluno ver se gosta e conhecer as possibilidades que esses materiais dão. Mas eu também gosto que o aluno traga o material que ele tem para aprender a usá-lo. Não precisa ter a melhor caixa de lápis de cor do mundo, porque um lápis comum faz muita coisa também, é só você saber usar, mas ninguém explica isso pra gente”, revela a professora.
Conforme destaca Juliandra Rogalski, a atividade extracurricular realizada no Ateliê de Artes está diretamente ligada com o aprendizado e desempenho dos alunos na escola. “Nesses 5 anos, eu fui descobrindo o que funciona e o que não funciona. Existem muitos cursos online, mas é muito diferente de dar aula presencial. Quando você ensina uma criança iniciante, você ajuda desde a pegada no lápis, a coordenação motora. Dos 6 aos 7 anos, você já consegue ensinar a parte de escrita, leitura, raciocínio lógico. E para cada idade existe uma etapa do desenho, até os 13 anos, e eu ajudo nessas passagens. Enquanto estas etapas do desenho vão acontecendo, na escola os alunos também passam por etapas nas outras disciplinas. Quando algum aluno está atrasado ou com algumas falhas nos estudos na escola, essas falhas geralmente se apresentam também no desenho. Então, o desenho ajuda muito no raciocínio lógico e criativo, faz parte do desenvolvimento de uma pessoa, mas infelizmente se tem muito pouco tempo disso na escola, precisaria mais tempo para aulas de artes, principalmente nas turmas iniciais. Lembrando que nas turmas iniciais não se tem um professor formado na área de artes para realizar as atividades e sim o próprio professor de pedagogia dentro do seu conhecimento passa as atividades voltadas para o desenho”, aponta Juliandra.
Benefícios do desenho: ‘como a tecnologia está muito em alta, é uma forma dessas crianças desligarem um pouco dos aparelhos e focarem mais em si mesmas’
De acordo com a professora, no Ateliê de Artes o aluno pode receber a atenção individual que necessita. “Não é culpa dos professores que não haja isso na escola, porque tem um currículo que deve ser cumprido, e a questão de tempo e de tamanho das turmas. Eu trabalho com grupo de no máximo 8 ou 10 alunos, então ofereço uma atenção individual. Se eu vejo que o aluno não está conseguindo, eu sento e mostro, porque a gente também aprende visualmente. Na escola é muito limitado, o professor não tem como fazer isso”, observa Juliandra. Conforme salienta, um dos objetivos dos pais que levam os filhos ao Ateliê é proporcionar atividades presenciais. “Além da criança gostar de desenhar, acaba sendo a primeira atividade extracurricular dela. E como a tecnologia está muito em alta, é uma forma dessas crianças desligarem um pouco dos aparelhos e focarem mais em si mesmas. O desenho traz muitos benefícios, que são comprovados, porque o desenho você não tem como fazer rápido e chegar num resultado que você vai ficar feliz, tem que desacelerar e se concentrar, então reduz muito a ansiedade. Isso é muito bom, porque o nosso cérebro precisa dar uma descansada”, frisa a professora.
Juliandra Rogalski também comenta sobre as dificuldades apresentadas por alunos adultos e da terceira idade. “Muitos sabem só pintar, mas não sabem desenhar, ou nunca usaram lápis de cor, porque na época deles não tinha as opções que temos hoje. Em alguns casos eu ensino a desenhar do zero”, revela Juliandra.
Aulas também abordam artistas clássicos e brasileiros
Conforme destaca, com os seus alunos no Ateliê de Artes ela aborda o trabalho de pintores clássicos e contemporâneos. “Um pintor que eu gosto e a maioria dos meus alunos também gostam é o Van Gogh. Inclusive, a próxima exposição imersiva que quero ir é a do Van Gogh, em São Paulo, no museu Imagem e Som (que estará aberta a partir do próximo mês de março). Nas aulas também abordo artistas brasileiros, que se fundem mais com a realidade dos alunos, como o Vik Muniz, que é um artista conhecido mundialmente por suas obras inusitadas, onde utiliza técnicas e materiais como alimentos, algodão, materiais recicláveis, cabelo, arame, serradura, pó, terra, dentre outros”, detalha Juliandra Rogalski.
Ateliê de Artes realiza exposição anual: ‘quero criar a cultura da arte em São Marcos’
Em 2021, no dia 5 de dezembro, o Ateliê de Artes Juliandra Rogalski realizou a segunda edição da sua exposição de arte, no CTG Porteira da Serra. Na ocasião, cerca de 800 trabalhos de alunos foram expostos. “Tivemos que adaptar e controlar a quantia de pessoas, devido à pandemia, mas tivemos um público de cerca de 800 pessoas e foi um sucesso. Para esse ano de 2022, tenho uns planos bem grandes, quero aumentar esse público. Quero criar a cultura da arte em São Marcos, fazer com que as pessoas olhem com mais atenção para esse lado. Todo mundo tem uma forma de mostrar sua habilidade, mas hoje em dia o esporte ainda é o mais privilegiado, que tem mais espaço. Se você não é tão bom nos esportes e a sua habilidade principal, aquilo que você tem orgulho, é o desenho, quando e onde você pode mostrar isso? Por isso eu vejo que é importante a exposição. Quando eu era criança, chegava alguém na minha casa e logo eu já ia buscar os meus desenhos para mostrar, porque a gente quer que as pessoas vejam, que valorizem”, aponta Juliandra Rogalski.